Um casamento, uma união de facto ou um namoro são relações de compromisso, no entanto, nem todas as pessoas se podem gabar de terem como parceiro romântico alguém que seja efetivamente capaz de se comprometer. É um paradoxo e é também por isso que tantos casais acabam por pedir ajuda terapêutica – porque pelo menos um deles não estará a ser capaz de viver de acordo com o que se espera de um compromisso. Como muitas vezes os problemas começam pelo facto de existirem visões muito subjetivas do que é um compromisso, importa clarificar a definição.
Começo por perguntar-lhe a si,
leitor:
Sabe o que é um compromisso?
Consegue descrever de forma precisa
o que significa mostrar de forma clara
que estamos comprometidos com alguém?
As perguntas parecem simples e as
respostas parecem óbvias mas a experiência diz-me que, na prática, as coisas
complicam-se. Por exemplo, para algumas das pessoas com quem tenho trabalhado,
é difícil olhar para uma relação amorosa como uma ligação marcada por
obrigações, no entanto,
UM COMPROMISSO PRESSUPÕE UMA OBRIGAÇÃO.
Quando olhamos para relações
menos marcadas pelos nossos afetos torna-se mais fácil aceitar que assim seja:
Se o leitor contratar um
eletricista para fazer uma reparação e este lhe disser que estará em sua casa
por volta das 10h, não é expectável que só apareça à hora de almoço. Ou, pelo
menos, se isso acontecer, dificilmente será capaz de olhar para o eletricista
como uma pessoa de compromisso. Se, pelo contrário, o profissional em causa lhe
ligar por volta das 9h30 a avisar que teve um furo, assegurando que consegue
estar em sua casa antes das 11h e aparecer por volta das 10h45, a sua
perspetiva será diferente. Apesar da alteração de última hora, esta é uma
pessoa capaz de se comprometer.
Quase todos os adultos têm
relações de compromisso no trabalho – a maior parte dos trabalhadores tem
horários para cumprir, prazos de entrega, tarefas pelas quais é responsável,
etc. E a menos que não haja qualquer medo de perder o emprego, cada um de nós
dá o seu melhor no sentido de cumprir com o que é esperado. Se é verdade que há
responsabilidades profissionais que não chegam a ser sentidas como obrigações
porque são, em simultâneo, fontes de satisfação, é quase certo que na atividade
profissional de cada um também haja afazeres que só são cumpridos porque há o
tal compromisso, o sentido de responsabilidade.
Ora, por que hão de as coisas ser
diferentes numa relação afetiva? Por que havemos de sentir-nos aprisionados ou
desconfortáveis com a ideia de a nossa relação amorosa também ser marcada por
algumas obrigações?
Tenho trabalhado com algumas pessoas
que estão dispostas a dar muito à sua relação,
ao seu companheiro, desde que isso não implique
que saiam da sua zona de conforto.
O que é que isto quer dizer? De entre
outras coisas, que estão dispostos a dar, sim, mas na medida em que lhes
apeteça, ao seu ritmo, sem obrigações, sem prazos, sem o tal sentido de
responsabilidade.
Numa matéria tão sensível como o DINHEIRO isso é particularmente
visível: uma pessoa pode estar disposta a pagar uma quantia elevadíssima para a
concretização de umas férias a dois mas pode não ser capaz de se expor perante
o outro partilhando de forma clara e responsável a gestão financeira. Há uma
dádiva pontual que é vista pelo próprio como uma mostra de generosidade mas que
não pode ser confundida com o compromisso (obrigação) que tantos casais assumem
quando, por exemplo, abrem uma conta a dois para a qual os dois contribuem de
forma equilibrada todos os meses.
A avaliação do grau de
compromisso é mais difícil (e subjetiva) em matérias como o lazer ou as tarefas
domésticas mas a verdade é que cada um de nós precisa de saber com o que é que
pode contar relativamente ao cônjuge, sob pena de os esforços do parceiro se
ficarem por meras “contribuições”, não atingindo o estatuto de compromissos.
E há uma diferença MUUUUUITO significativa
entre contribuir e comprometer-se.
Uma pessoa pode encontrar alguns
furos na agenda para levar os filhos ao parque ou para fazer o jantar, mas isso
não significa que esteja a ser capaz de se comprometer. E sempre que só um dos
membros do casal é capaz de assumir compromissos, ficando à mercê do que o
outro quer/ tem vontade/ tem tempo para fazer, é só uma questão de tempo até
que haja problemas sérios, que ameacem a viabilidade da relação. E se, nalguns
casos, as coisas “funcionam” durante alguns anos, quando a insatisfação do
cônjuge que está habituado a comprometer-se atinge o ponto de saturação, nem a
terapia conjugal consegue ajudar.
É precisamente em sede de terapia
que costumo propor alguns exercícios que têm o objetivo de fomentar este pilar
das relações amorosas. Em qualquer um desses exercícios, procuro tornar claras
as regras de um compromisso. E comprometermo-nos com alguém implica 3 regras simples:
♥ Assumir publicamente a intenção
de nos comprometermos – contando à família, aos amigos ou assinando um
documento/ contrato que mostre a nossa vontade.
♥ Identificar uma data ou
clarificar a periodicidade para a concretização do compromisso.
♥ Fazer o que estava previsto, a
menos que surja, pontualmente, algum impedimento.