São muito frequentes os pedidos de ajuda psicológica por parte de adultos em processo de separação. Estes pedidos estão maioritariamente relacionados com
dificuldades que os próprios enfrentam ao longo do processo,
dificuldades em planear o futuro depois da rutura
e, claro,
preocupações em o impacto do divórcio na vida das crianças.
Legitimamente, as pessoas que
enfrentam a dor da separação estão habitualmente centradas no núcleo que
entretanto se desfez. No entanto, esta é uma etapa do ciclo de vida que envolve
muito mais pessoas e laços do que a família nuclear pressupõe. Não raras vezes,
a família alargada também sofre com a
rutura – e não me refiro apenas à desilusão e às expetativas goradas.
Refiro-me ao luto, às perdas, por que passam os pais,
os irmãos e outros familiares,
que não raras vezes adotam aquele genro/ cunhado
ou aquela nora/ cunhada como se
de um(a) filho(a)/ um(a) irmã(o) se tratasse.
Ainda que o divórcio esteja já
enraizado no mundo ocidental e saibamos todos que um em cada dois casamentos termina desta forma, ninguém está
verdadeiramente preparado para lidar com este acontecimento. E mesmo que haja
vontade de manter a amizade, a verdade é que quando o casamento se desfaz há
laços que não voltam a ser o que eram. As famílias acabam quase sempre por
afastar-se e, mesmo que não haja um processo de divórcio destrutivo, são os
próprios membros do então casal que, de uma forma mais ou menos clara, acabam
por reivindicar fronteiras rígidas entre a sua própria família e o agora
ex-cônjuge.
Como a primeira etapa do luto
associado ao divórcio é quase sempre marcada pelo recolhimento e pela vontade
de cortar definitivamente os laços com o passado, é compreensível que para quem
se divorciou haja desconforto associado à ideia de os seus pais e irmãos
manterem contacto com o ex-cônjuge. Nesse sentido, a família alargada acaba
quase sempre por desprender-se dos seus próprios afetos e vontades, procurando
ir ao encontro do que o recém-divorciado precisa.
Nalguns casos há maior resistência
em fazer este corte e os equívocos são mais frequentes. Afinal, se os pais da
pessoa que acabou de se separar insistirem em manter contacto com o genro ou
nora, podem, sem querer, transmitir a mensagem de que não “aprovam” aquela
separação ou que não estão dispostos a apoiar o(a) seu(sua) filho(a).
De um modo geral, é preciso algum tempo
até que a poeira assente e os afetos de cada um dos
membros da família possam ser demonstrados
de forma clara, contribuindo para a segurança emocional de todos.
Até que isso aconteça, pode ser necessário pedir ajuda para evitar que os equívocos se perpetuem e minem as relações afetivas.