Como quase todas as pessoas saberão, um dos sintomas mais frequentes da depressão é o pessimismo generalizado. A maior parte dos pacientes deprimidos olha para si mesmo de forma distorcida, acabando por acreditar em pensamentos como
“Não valho nada”,
“A minha vida é vazia”
ou “Nem vale a pena tentar…”.
Um dos grandes problemas
associados à inexistência de acompanhamento psicoterapêutico prende-se com a
impossibilidade de desconstruir estes
pensamentos – a pessoa convence-se de que esta é uma visão realista da sua
vida e entrega-se, ainda mais, a uma doença altamente incapacitante.
A páginas tantas quase tudo pode
ser motivo para agudizar o desespero associado à doença. Se a pessoa deixa cair
o saco de compras antes de chegar a casa, pensa “Sou um desastrado, não sirvo para nada”; se um colega de
trabalho franzir a testa, surgem pensamentos do tipo “Ninguém gosta de mim”. É a própria depressão que inviabiliza o
surgimento de alternativas mais razoáveis – nem os sacos de compras das outras
pessoas se rompem, nem o colega de trabalho poderia estar aborrecido com os
seus próprios problemas. Além disso, todos os erros que a pessoa deprimida
comete ficam registados na sua própria memória e são vistos como sinais da sua
personalidade. Por oposição, os comportamentos bem-sucedidos são olhados como
meros acasos, exceções à regra.
Uma parte do trabalho
psicoterapêutico realizado com pessoas com depressão passa precisamente pela
aplicação de exercícios de restruturação cognitiva que ajudem a transformar as
crenças irracionais em visões razoáveis e objetivas da realidade.
Quando o paciente tem oportunidade
de alterar alguns destes pensamentos,
as suas emoções também mudam.
Em paralelo com o trabalho
realizado em sede de terapia é possível implementar alguns esforços para quebrar
a escalada de negatividade.
♥ Antes de mais, o paciente com
depressão precisa de interiorizar que o
pessimismo é um sintoma da doença e que, em função disso, há muitos pensamentos
que, ainda que pareçam realistas, não o são.
♥ Conhecer a doença implica saber
que há outros sintomas, mais específicos, além da tristeza e da falta de
energia:
- Dificuldades
de concentração.
- Incapacidade
para acabar projetos/ tarefas.
- Dificuldade
em lidar com grupos por causa da ansiedade.
- Falta
de motivação.
- Inação.
- Sentimentos
de culpa e vergonha.
♥ Não basta identificar estes
constrangimentos e responsabilizar a doença pela sua ocorrência. É preciso ser tolerante com as próprias falhas e
aceitar que é preciso treino (terapêutico) para as ultrapassar.