Estou casada há pouco mais de seis meses e, apesar de passar todo o tempo livre com o meu marido, ele parece sentir-se enciumado com o facto de eu dar atenção a outras pessoas. No outro dia fomos visitar os meus pais e ele fez uma “cena” acusando-me de ter passado demasiado tempo à conversa com o meu irmão. Depois de 8 anos de namoro com uma pessoa que mais tarde me apercebi que era emocionalmente violenta, a última coisa de que preciso é de repetir a dose!...
Sónia, 32 anos
Quando se fala de pessoas
ciumentas/ controladoras a primeira coisa que parece óbvia é que os seus
comportamentos são normalmente dominados por níveis elevados de insegurança. E,
de facto, isso corresponde à verdade na maior parte dos casos. Quanto maior for
a ansiedade, normalmente associada a eventos passados que deixaram marcas
profundas, maior a probabilidade de a pessoa cometer disparates, cedendo à
impulsividade e aos medos irracionais, acabando quase sempre por prejudicar o
cônjuge – com birras, amuos,
descontrolo, pedidos mais ou menos estapafúrdios.
A origem desta insegurança pode
estar relacionada com experiências amorosas marcadas por traições ou por
acontecimentos muito mais distantes no tempo relacionados com a infância e/ou
com a relação dos próprios pais. Não raras vezes, ao fazer-se a recolha de
informações acerca do percurso de vida destas pessoas é possível identificar
eventos traumáticos cujo impacto fora desvalorizado pelo próprio, pelo menos
até iniciar o processo terapêutico.
Como na generalidade destes casos
a pessoa está muito mais centrada na dor provocada pelo medo exacerbado da perda do que na origem (e sólida resolução) do
problema, vai cedendo aos impulsos, ignorando que o seu comportamento possa tornar-se
agressivo, emocionalmente abusivo.
Infelizmente, encontram muitas vezes feedback que alimenta o problema
relacionando-se com pessoas carentes, com autoestima fragilizada e que relevam
as crises de ciúmes com desculpas do tipo “Ele(a) age assim porque gosta de
mim”… Claro que à medida que o tempo passa e o cônjuge da pessoa insegura vai
cedendo às suas exigências, a escalada cresce, os pedidos são cada vez menos
razoáveis, a necessidade de controlo é cada vez maior e a probabilidade de
estarem reunidas as condições para uma relação marcada pela violência emocional também.
No exemplo acima é bem patente a
falta de razoabilidade do episódio. Pelo menos para quem está de fora é notória
a imponderação associada à “cena” que aquele marido decidiu fazer.
A insegurança é de tal ordem que
qualquer evento em que a mulher tenha de
focar a atenção noutras pessoas que não o próprio
é motivo de angústia e, claro, birra.
Ainda que estejamos, neste caso,
a referir-nos ao cunhado. Ainda que TODO
o tempo livre daquela mulher seja passado ao seu lado. Por outro lado, é também
evidente o padrão relacional desta mulher que, tendo no seu passado afetivo uma
relação marcada por abusos emocionais, não é capaz de reconhecer que terá
optado exatamente pelo mesmo “tipo” de parceiro – inseguro, controlador e, a
seu tempo, muito provavelmente emocionalmente abusivo. É verdade que se queixa
do controlo excessivo mas é pouco provável que tenha estado atenta aos
anteriores sinais de alarme. De resto, terá já feito cedências que pouco ou
nada teriam de razoável.
É absolutamente crucial estar
atento aos primeiros sinais de ciúme
excessivo, colocar um travão e, claro, pedir ajuda no caso de se querer
continuar a relação. Ignorar/desvalorizar os comportamentos controladores e/ou
esperar que, com o tempo, com a oficialização da união ou com o facto de
passarem a viver juntos as coisas mudem é arriscar
demasiado. Infelizmente, são muitas as pessoas que só se dão conta da
dimensão do problema quando a escalada atinge níveis alarmantes. De um modo
geral, por essa altura já se isolaram dos familiares e amigos, estão
psicologicamente exaustas e descrentes no amor. NÃO COMPENSA.