Independentemente da relação que nos una a determinada pessoa, nunca é fácil gerir os momentos em que há necessidade de lidar com a crítica. Não é fácil criticar nem é fácil ser criticado. Já todos passámos pela experiência de sermos criticados e a verdade é que nos sentimos de algum modo desconfortáveis, diminuídos, estupidificados até, como se aquela chamada de atenção tivesse mais peso do que qualquer elogio que possa ter sido feito. Às vezes até ficamos a ruminar sobre o assunto, às voltas com o que foi dito. E, tal como as crianças, não raras vezes damos por nós a reagir às críticas com frases do tipo "Sim, mas...", numa tentativa de nos defendermos de imediato, fugindo, ainda que inconscientemente, da nossa responsabilidade.
O facto de sabermos que é difícil
ouvir uma crítica faz com que também nos sintamos constrangidos com a ideia de
ter de fazer uma apreciação negativa do comportamento de outra pessoa. E mesmo
quando reconhecemos que a assertividade é o caminho e que a falta de
frontalidade pode ser (ainda mais) perigosa, muitas vezes damos por nós a
preceder a tal crítica de uma série de "paninhos quentes", como se
cada chamada de atenção só pudesse ser feita depois de ficar claro o nosso apreço
pela pessoa em causa.
As investigações sobre esta
matéria têm mostrado que a probabilidade de as críticas serem aceites e de a
pessoa criticada assumir a sua responsabilidade é maior se a crítica for bem
doseada, isto é, se se referir a um
episódio/ um assunto específico. Quando isso acontece, a concentração do
nosso interlocutor fixa-se no episódio descrito e aumenta a probabilidade de
alguma mudança surgir em resposta à chamada de atenção. Pelo contrário, se a
crítica for feita sob a forma de uma generalização, envolvendo vários episódios
e/ou se a pessoa em causa for criticada em mais do que um ponto-chave, a
eficácia é muito menor.
Por outro lado, a eficácia da
comunicação também aumenta se o tal apreço a que me referia antes surgir DEPOIS da crítica, e não antes.
Tratar-se-á, nesta altura, de reforçar que, apesar da chamada de atenção,
existem qualidades/ comportamentos positivos/ esforços que não estão a ser
ignorados. Mais do que “dar uma no cravo e outra na ferradura”, esta estratégia
permite que a pessoa que critica legitime a chamada de atenção com o facto de
existir sentido de justiça. Por outro lado, este retorno positivo depois da
crítica serve para dar ânimo à pessoa que se espera que dê o seu melhor para
emendar o comportamento em falta.
Num exemplo muito mundano,
imagine-se um marido que chama a atenção da mulher por esta ter exagerado nos
condimentos de um determinado prato. Para os mais fundamentalistas, o marido
deveria estar calado e agradecer o facto de a sua mulher cozinhar para si todos
os dias. No entanto, esta chamada de atenção não tem nada a ver com ingratidão
nem implica que aquele marido não aprecie os cozinhados da mulher. A chamada de
atenção está relacionada com a confeção DAQUELE
prato e, se for feita de forma inteligente, não coloca em causa o valor daquela
mulher enquanto responsável pela preparação das refeições da família.
Numa família emocionalmente inteligente
estas críticas são bem-vindas
na medida em que
impedem que o desagrado se eternize.
Mais: quando nos mostramos
recetivos às críticas, sentimo-nos também confortáveis na altura de sermos nós
a fazer uma chamada de atenção. Afinal, a manifestação clara e respeitosa de
desagrado não só não é dramática como pode ser o caminho mais ajustado à
construção de relações realmente íntimas e seguras.