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24.4.12

OS PERIGOS DO FACEBOOK – UMA AMEAÇA ÀS NOSSAS RELAÇÕES?



(Entrevista concedida à revista Happy Woman a propósito da reportagem “O Facebook estragou-me a vida”)

Devemos ter o nosso companheiro adicionado como amigo no Facebook? Porquê?

Começando por salientar que o que é fundamental – no Facebook como noutras áreas da conjugalidade – é que os membros do casal conversem abertamente e criem as suas próprias regras, a resposta é sim. O FB é uma plataforma de comunicação que nos coloca em linha direta com amigos com quem convivemos diariamente mas também como perfeitos estranhos que rapidamente podem aceder a fragmentos da nossa intimidade. Ser amigo do cônjuge no FB não tem de equivaler a comportamentos de bisbilhotice mas antes à transparência e honestidade que se espera que caracterize uma relação íntima. Quanto maior for a clareza em torno do que cada um faz na rede social do momento, maior será com certeza a segurança na relação. Pelo contrário, a ideia de esconder do parceiro uma parte – nalguns casos significativa – das nossas conexões afetivas implica abrir espaço para equívocos e inseguranças que podem dar origem a problemas sérios.

Quais são os verdadeiros motivos que podem «estragar» a relação face à utilização do Facebook? Ciúme? Outros?…

Sendo, como referi antes, um meio de comunicação que facilita o alargamento da nossa rede de contactos, o FB é uma porta aberta a relações superficiais em que o retorno é quase sempre positivo e as desilusões/ frustrações são praticamente inexistentes. Do outro lado do ecrã está quase sempre alguém que parece empatizar com os nossos desabafos, que nunca se queixa e que, ainda por cima, tem a frescura que um relacionamento de longa data pode não ter. Se a estes fatores adicionarmos o facto de ser relativamente fácil aproveitar esta rede social para “rever” antigos colegas de escola ou até ex-namorado(a)s, está criado o terreno fértil para o aparecimento de problemas. Esta realidade é mais visível entre casais que já estavam de algum modo afastados mas pode atingir casais aparentemente saudáveis. É precisamente porque é fácil encantarmo-nos com o facilitismo destas reconexões que há que criar limites, definir horários para a utilização do FB e continuar a olhar para dentro da relação.

Depois claro que há dificuldades iniciais por que quase todos os casais passam e que estão relacionadas com aquilo que se deve ou não fazer no FB de modo a não ferir suscetibilidades. E aqui volta ser importante enfatizar que o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra pelo que só o diálogo permitirá que cada casal construa as suas próprias regras. Para alguns casais não há problema nenhum no facto de o marido colocar um “gosto” na fotografia de uma amiga que se apresenta em biquíni, enquanto para outros isso pode ser fonte de angústia e de insegurança.

A privacidade do casal é comprometida no Facebook? Como evitar?

Vivemos numa era em que quase tudo aquilo que fazemos é público e importa que interiorizemos que daqui para a frente não controlaremos tudo aquilo que diga respeito à nossa privacidade. A verdade é que qualquer um dos nossos amigos reais pode publicar uma fotografia nossa no FB, identificando-nos mesmo que não tenhamos um perfil ativo. Ainda assim, a verdade é que o próprio FB coloca à disposição de todos os utilizadores um vasto conjunto de ferramentas que permite definir aquilo que é partilhável ou não e com quem. O problema é que, tanto quanto me é dado a perceber, a maior parte das pessoas desconhece estes recursos e acaba tantas vezes por diabolizar a própria rede social. No que diz respeito às relações conjugais, compete a cada casal definir aquilo que considera saudável partilhar com a respetiva rede de amigos. Independentemente disso há regras que deveriam ser seguidas por todos os casais e que têm a ver com a exposição da intimidade emocional. Não faz sentido, por exemplo, usar o FB para publicar textos ou vídeos em tom de desabafo denunciando alguma forma de mal-estar ou tensão entre o casal. A verdade é que essa exposição abre espaço para equívocos, escalada da própria tensão e, claro, para o aparecimento de falsos “ombros amigos”, mais voltados para a possibilidade de viverem um affair.

Por que razão há tantas mulheres (e também alguns homens) a espiarem o perfil do parceiro atual e, mais «estranho» ainda, dos ex-companheiros?

A maior parte das pessoas é naturalmente curiosa e o FB alimenta algum voyeurismo. No que diz respeito a espiar o parceiro, o comportamento é sobretudo o reflexo da ausência de comunicação eficaz. A verdade é que quanto maior for a insegurança de um dos membros do casal, maior a probabilidade de ocorrência destes comportamentos e de surgimento de ciclos viciosos perigosos – porque quem é espiado pode aperceber-se disso mesmo e, ao sentir-se atacado/ invadido, pode (erradamente) esconder ainda mais aquilo que faz no FB agudizando a insegurança do outro.

A curiosidade em relação ao perfil do Ex pode estar relacionada com o facto de ainda existirem mágoas e/ou ao facto de a pessoa ainda não ter conseguido desvincular-se do antigo companheiro. Isso não significa que haja qualquer intenção de retomar a relação – na maior parte dos casos não há – mas significa, isso sim, que a gestão emocional ainda não está completa. Quando nos desvinculamos, aquilo que os Ex fazem deixa de ser relevante.

Devemos ter familiares adicionados? Até que ponto isso é positivo ou negativo?

As fronteiras que existem no FB devem assemelhar-se às que aplicamos no convívio real. Se para a generalidade das pessoas não faz sentido fechar a porta de casa a familiares, tão pouco será lógico escancarar à família alargada a intimidade emocional ou sexual, por exemplo. Ora, no FB é possível partilhar alguma informação com os nossos familiares, ocultando aquilo que não nos parecer razoável dar a conhecer.

Partilhar conteúdos só para grupos de amigos e outros não terem acesso é uma solução?

Como referi antes, essa é uma das funcionalidade que o FB oferece e que me parece um recurso interessante. A criação de listas de amigos permite-nos facilmente escolher com quem partilhar o quê, tal como fazemos na vida real.

Devemos ter colegas de trabalho adicionados? Porquê?

Nem todas as pessoas se sentem confortáveis com a ideia de adicionar colegas de trabalho a uma rede social tão informal quanto o FB, no entanto, a verdade é que o facto de adicionarmos alguém não implica que aquela pessoa passe a aceder a conteúdos íntimos. No limite, é possível aceitar o convite de alguém restringindo o acesso a todas as nossas publicações e dados pessoais. Por outro lado, a verdade é que existem redes sociais, como o Linkedin, que estão mais voltadas para as relações profissionais mas que não têm, pelo menos em Portugal, o grau de adesão que o FB tem.

Como podemos delinear limites de privacidade para não sermos prejudicados ou mal interpretados?

A resposta a esta pergunta é relativamente simples e está relacionada com as escolhas que fazemos fora da Internet. Se no dia-a-dia não nos imaginaríamos a partilhar fotografias das nossas férias com o nosso patrão, por que o faríamos no FB, por exemplo? Se tivermos presente que as redes sociais são uma extensão da nossa vida real, é relativamente fácil discernir sobre os limites da privacidade. Por outro lado, é óbvio que devemos ter em consideração que há assuntos que nem sequer faz sentido abordar por escrito, na medida em que isso geraria uma probabilidade maior de ocorrência de equívocos, e que portanto não devem ser expostos no FB. A dificuldade pode estar na interiorização de que há questões que só podem ser resolvidas presencialmente, com a pessoa certa, no momento certo e de forma assertiva. Deparo-me demasiadas vezes com pessoas que estão habituadas a “discutir” assuntos sensíveis por SMS ou via Messenger, ignorando que dessa escolha resultam níveis de tensão significativamente superiores.

Se algumas pessoas que não queremos adicionar no Facebook (por exemplo ex-namorados, etc…) nos enviarem um pedido de amizade como podemos recusar sem sermos comprometidos?

A assertividade – capacidade para expormos as nossas opiniões de forma clara e honesta sem desrespeitar os outros – é uma competência fundamental nas relações afetivas e sociais. Cada pessoa deve ser capaz de fazer as suas escolhas e de as assumir, ainda que isso frustre as expetativas de outrem. A verdade é que é preciso pesar os prós e os contras e, de um modo geral, corremos mais riscos quando dizemos sim querendo dizer não, isto é, quando optamos pela passividade. Dizer algo como “Eu sei que me enviou um pedido de amizade mas não aceitei porque na minha rede prefiro ter apenas as pessoas mais próximas” não é ofensivo nem comprometedor.

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