Até há alguns anos, a saída dos filhos de casa era definitiva. Nos últimos tempos, em função do aumento do número de divórcios e, sobretudo, por causa da crise financeira e do desemprego, há cada vez mais adultos que se vêm forçados a voltar a viver em casa dos pais. Não sendo um passo desejado, pode ser especialmente complicado gerir o facto de as expetativas de uns serem muito diferentes das dos outros, bem como pode ser difícil conviver debaixo do mesmo teto de acordo com regras que – tendo sido funcionais há uma ou duas décadas - já não são ajustadas.
Mas ainda que esta etapa do ciclo
de vida seja sobretudo um acidente de percurso indesejado, é possível minimizar
os danos aplicando algumas dicas:
1 Lembre-se de que os seus pais
estão a fazer-lhe UM FAVOR. É muito
fácil começar a implicar com os hábitos de pessoas mais velhas, que aos seus
olhos pararam no tempo. Mais: pode ser tentador aproveitar o seu regresso às
origens para aplicar regras novas que, do SEU
ponto de vista só trariam vantagens. A palavra-chave para que a sua estadia em
casa dos seus pais seja bem-sucedida é RESPEITO.
Você está de passagem e os seus pais têm o direito de viver a vida como
escolheram.
2 Planeie a sua vida de modo a
que a sua estadia seja, de facto, TEMPORÁRIA
e informe os seus pais acerca dos seus planos. Esta pode parecer-lhe a pior
fase da sua vida mas é também a oportunidade para fazer escolhas que lhe
permitam percorrer novos caminhos. Se o seu tempo "livre" for passado
a dormir ou a ver televisão, é pouco provável que alguma coisa mude significativamente.
É preciso arregaçar as mangas, fazer esforços diferentes, sair da sua zona de conforto, em vez de ficar à espera de um
milagre.
3 Evite ocupar abusivamente o
espaço dos seus pais. Não deixe as suas coisas espalhadas pela casa, ainda que
estivesse habituado a fazê-lo em sua casa. Desde que construiu a sua
independência, os seus pais criaram novos hábitos e é natural que, ao fim de algumas
semanas, se sintam desconfortáveis com algumas mudanças associadas ao seu
regresso. Algumas discussões a respeito da (des)arrumação escalam facilmente
para braços-de-ferro do tipo "mas tu és mais desarrumado(a) do que
eu"... Releia a primeira frase do primeiro ponto e respire fundo :)
4 Seja um hóspede responsável.
Limpe e organize o seu quarto. Este é o seu espaço e é absolutamente razoável
que reivindique o direito à privacidade mas isso não deve ser confundido com o
direito a criar o seu próprio estado de sítio DENTRO da casa dos seus pais. Uma das vantagens de viver em casa
própria é precisamente a possibilidade de se arrumar a casa porque/ quando se
quer e não porque os pais "mandam" mas qualquer tentativa de boicote
à manutenção de um quarto limpo e minimamente organizado é infantil e irresponsável.
5 Mime os seus pais. No meio dos
braços-de-ferro que tantas vezes se instalam nestas situações, é fácil
esquecermo-nos dos recursos que facilitam a convivência harmoniosa entre
adultos. Surpreender os seus pais com um almoço ou um jantar preparado por si
fará mais pela vossa relação do que qualquer ruminação à volta das tensões que
os afligem.
6 Declare as suas intenções. Se
não tem vontade de ir jantar a casa, informe os seus pais, evitando deixá-los
"pendurados". Lembre-se de que, para os pais, os filhos são sempre
crianças, que precisam de cuidados, que se podem magoar. A ideia de voltar a
ter de dar satisfações/ dizer a que horas chega pode parecer-lhe um retrocesso
mas é, provavelmente, um caminho ajustado a esta etapa e que evitará tensões
desnecessárias.
7 Se os seus pais forem demasiado
intrusivos, expresse o seu desagrado (de
forma emocionalmente inteligente). Guardar a insatisfação para si pode
estar na origem do "efeito panela de pressão". Diga algo como
"Eu sei que vocês se preocupam comigo mas quando me dizem "X",
eu sinto-me como se tivesse 15 anos". Imponha limites claros sem
desvalorizar o esforço de quem gosta de si incondicionalmente.