Tenho-me referido inúmeras vezes ao impacto que a evolução tecnológica tem provocado nas relações afetivas, bem como às vantagens e desvantagens de algumas ferramentas. De um modo geral, aquilo que escrevo é o reflexo daquilo a que vou acedendo no consultório, em particular às queixas das pessoas com quem trabalho. Mas há um lado desta revolução cibernética que ainda não foi aqui explorado e que diz respeito às próprias consultas. Se até há relativamente pouco tempo o acompanhamento de um psicólogo estava reduzido ao espaço de um gabinete, agora as alternativas globalizaram-se.
Hoje é possível que um português
residente numa localidade onde não haja um serviço de Psicoterapia possa
realizar estas consultas sem ter de se
deslocar a um centro urbano. Se pensarmos no que é possível poupar no que
diz respeito às deslocações, já é possível antecipar algumas vantagens.
Mas esta possibilidade é ainda
mais vantajosa para uma fatia específica da população – os emigrantes. Já imaginou como se sentiria se tivesse necessidade
de recorrer a um psicólogo que não falasse a sua língua materna? A verdade é
que por maior que seja o nosso conhecimento de uma segunda língua, é-nos muito
mais fácil organizar os nossos pensamentos e as nossas emoções ao falarmos na
nossa própria língua. Por outro lado, sentimo-nos invariavelmente mais
acolhidos.
Em termos clínicos também é
possível identificar um público-alvo para quem esta modalidade pode ser, pelo
menos no início do tratamento, a melhor opção:
Os pacientes que sofrem de agorafobia
e que têm medo de sair de casa.
Ou aqueles que se sintam demasiado inseguros
para se encontrarem fisicamente com um psicólogo.
Pode parecer ridículo, já que a
existência de uma fobia deveria servir exatamente para que a pessoa se sentisse
motivada para dar esse passo mas a verdade é que os medos podem ser
assustadoramente incapacitantes e, sem esta alternativa, algumas pessoas vivem
aprisionadas durante anos.
COMO FUNCIONA?
O Skype é o programa informático mais utilizado nas consultas online.
Trata-se de um software que permite a videoconferência com níveis de qualidade
acima da média e que tem a grande vantagem de permitir fazer chamadas – de voz
e imagem – gratuitas de um computador para o outro. De resto, as consultas têm
normalmente a mesma duração e a mesma frequência do que as consultas
presenciais. Para algumas pessoas a videoconferência tem a mais-valia de
poderem olhar mais proximamente para o rosto do terapeuta (que, por motivos
óbvios, está perto da câmara e, por isso, virtualmente mais perto do paciente).
É lógico que também existem
desvantagens associadas a esta alternativa e importa que fique claro que a
primeira opção deve ser o acompanhamento psicoterapêutico presencial. Ainda que
existam ferramentas cada vez mais evoluídas, nada substitui os recursos
inerentes à comunicação cara a cara. Quando um terapeuta conversa
presencialmente com um paciente tem oportunidade de dar atenção não apenas à
comunicação verbal, mas também a todos os gestos e outros elementos que compõem
a comunicação não-verbal. E qualquer psicólogo reconhece a importância destas
questões, subtis e tantas vezes impercetíveis ao olhar de um leigo.
Por outro lado, as consultas
online envolvem mais riscos em termos da fiabilidade do serviço que está a ser
prestado, pelo que, mais do que nunca, é fundamental que quem procura esta
alternativa se certifique de que está a recorrer a um profissional experiente e
qualificado. De resto, em caso de dúvida, a Ordem dos Psicólogos Portugueses
permite atualmente verificar se determinado profissional se encontra ali
inscrito.
Tal como acontece na terapia
presencial, as consultas são marcadas previamente, pelo que há um horário
predefinido. Ora, importa que, a essa hora, o paciente possa certificar-se de
que estará num local com acesso à Internet e que haja garantias de que a sessão
decorrerá sem interrupções. Escusado será dizer que a realização destas
consultas não deve ocorrer enquanto o paciente estiver no seu local de
trabalho, sob pena de não estarem reunidas as condições de privacidade. Em casa
também é fundamental que o paciente esteja suficientemente confortável, sem a
pressão de ter de dar atenção – naquela hora – aos compromissos familiares.