A depressão é a doença com que a maioria dos psicólogos lida com mais frequência. Não é por acaso que lhe chamam a epidemia do século. É uma doença incapacitante, que transforma aqueles de quem gostamos em pessoas estranhas, com reações imprevisíveis e a luz ao fundo do túnel pode tardar em aparecer.
Como é que alguém
pode lidar com um cônjuge deprimido que, de um momento para o outro, deixa de
ser uma pessoa ativa e conversadora e passa a ser alguém que se esconde em casa
e mostra incapacidade de se entusiasmar com o que quer que seja?
Como é que um pai ou
uma mãe podem lidar com um filho que, num momento, tinha todos os sonhos e toda
a energia do mundo, e, noutro, mostra vontade de desaparecer?
O que é que se diz a
alguém que olha para o mundo de forma tão pessimista e desesperada?
E como é que se
consegue continuar a trabalhar, continuar a sair, continuar a viver quando
alguém de quem se gosta tanto está tão doente?
A resposta a estas questões
começa pela aceitação de que esta é uma doença que afeta o paciente bem como
aqueles que estão à volta. Depois importa que, na medida do que for possível,
não apenas o doente seja acompanhado mas que também as pessoas da sua família
possam sentir-se ouvidas, amparadas, sob pena de os laços não resistirem à pressão.
Afinal, por mais que gostemos de alguém, e ainda que existam laços de
consanguinidade, muita coisa muda quando a pessoa que está doente deixa – às
vezes durante muito tempo – de estar lá. O que é que isso quer dizer? Que um
marido/ filho/ irmão carinhoso pode passar a ignorar os seus familiares. Ou que
aquele que antes saía diariamente de casa se enfie no quarto e se mostre
incapaz de qualquer interação positiva. Ou que deixe de conseguir trabalhar. Ou
que mostre constantes sinais de irritabilidade. Estes são apenas alguns dos
possíveis danos provocados pela doença e que importa “digerir” em contexto
terapêutico.
Estes maridos e mulheres, estes
pais e filhos e irmãos de pessoas com depressão não são super-homens nem super-mulheres e não têm de estar sempre
com o humor e a energia em alta. Precisam de espaço para mostrar a sua própria
vulnerabilidade, precisam de carregar baterias e precisam de alimentar a
esperança de que, com o devido acompanhamento e com o seu próprio amparo, o seu
familiar vai melhorar e os laços vão voltar a ser devidamente alimentados. E isso pode ser conseguido com o
acompanhamento psicoterapêutico.
Paralelamente, precisam de
continuar a investir em si, mantendo
as atividades que potenciem a capacidade de se abstraírem, nem que seja por um
par de horas, dos problemas familiares. E precisam de conseguir falar
abertamente sobre os problemas com as (outras) pessoas da sua confiança,
evitando o efeito “panela de pressão”.
Em suma, precisam de interiorizar
que só se cuidarem de si é que
poderão continuar a dar força e ânimo
a quem, por agora, está doente.