Como já tive oportunidade de referir, os problemas com a família de origem são um dos principais focos de tensão na vida a dois e são também um dos motivos por que muitas pessoas sentem necessidade de recorrer à terapia (individual ou de casal). Como quase todas as pessoas já experimentaram algum nível de tensão associado ao relacionamento com os sogros, pode parecer exagerado que haja tanta gente a recorrer à ajuda clínica para lidar com um problema que, na maioria das vezes, pode ser gerido pela própria família. No entanto, como acontece noutras áreas da conjugalidade, o problema passa a merecer a intervenção externa quando as competências do casal já não chegam para dar resposta às dificuldades e/ou quando estas se prolongam indefinidamente deteriorando os laços. E há alguns casos em que a tensão é muito elevada e está quase sempre presente.
De um modo geral, as dificuldades
que levam a que alguém peça ajuda especializada dizem respeito à ausência de fronteiras claras em relação à
família de origem. Nalguns casos, as fronteiras são difusas porque os
pais/sogros têm ou tiveram algum controlo financeiro sobre o casal (financiando
a casa ou atribuindo-lhes uma mesada, por exemplo); noutros casos a
interferência excessiva está diretamente relacionada com a carência afetiva dos
progenitores e a falta de assertividade dos filhos; e ainda há as situações em
que os limites são pouco claros em função da debilidade/ dependência dos
progenitores. Em qualquer destas circunstâncias há uma coisa que falha:
Os membros do casal não conseguem
colocar a sua relação em primeiro lugar.
Na maioria das vezes as
discussões atingem níveis perigosos de agressividade na medida em que há uma
pessoa que se sente preterida (e o pedido de ajuda clássico continua a ser
proveniente das noras que se queixam de ver a sua vida “invadida” pelas sogras)
e há outra que se sente forçada a escolher entre o amor aos pais e o amor ao
cônjuge.
Ora aquilo que está
em causa nestas situações
NÃO é a necessidade de escolher entre duas formas de amor.
O que está em causa é
a clarificação dos papéis.
Para que cada um dos membros da
família possa sentir-se livre para viver a sua vida é preciso que reconheça
aquilo que é esperado de cada etapa do ciclo de vida. O problema está muitas
vezes nas lacunas que existem na vida dos pais/ sogros e que NÃO PODEM/ NÃO DEVEM ser preenchidas
pelos filhos. Estas lacunas podem estar relacionadas com a deterioração da
relação conjugal ou até com a inexistência desse papel (por viuvez ou por divórcio).
Em qualquer dos casos, tentar viver a vida através da vida dos filhos não é
solução. Pelo contrário, é limitativo para os próprios pais, na medida em que
não desenvolvem novas competências e novos laços; e é limitativo para os filhos
que, na maior parte dos casos, se nada for feito, veem a sua relação degradar-se.