Estava, mais uma vez, no meio do trânsito. Nada de novo. De repente, surgiu um pensamento macabro – “E se eu tivesse um ataque cardíaco AGORA? Ou me sentisse mal… Como é que eu poderia sair daqui rapidamente”. Do pensamento à taquicardia foi um ápice. A ansiedade tomou, literalmente, conta de mim, tomou conta do meu corpo. A cabeça começou a andar às voltas, parecia que a minha mente estava fora do meu corpo… Eu estava ali mas ao mesmo tempo não estava! Pânico. Foi o que senti. Senti pânico. E, desde então, as crises, como lhe chamo, repetem-se, ora mais intensas, ora mais controladas.
Esta descrição parecerá estranha
para a maior parte dos leitores mas soará a algo assustadoramente familiar a
todas as pessoas que já passaram por crises de ansiedade/ ataques de pânico/
episódios de despersonalização (a tal
sensação de não estar “lá”). O que têm em comum estas pessoas? O medo
exacerbado de voltar a passar por esta experiência.
Como tenho referido, os
transtornos ansiosos são limitativos, incapacitantes. Mas nenhum transtorno
ansioso é tão assustador como a perturbação de pânico. Porque tudo é
assustadoramente intenso. Porque as sensações físicas acarretam um medo de que
o corpo não aguente e a morte às vezes parece iminente. Porque, mesmo que a
pessoa seja capaz de racionalizar e interiorize que “ninguém morre de ataque de
pânico”, o mal-estar teima em crescer durante cada crise e, pelo menos durante
alguns dias depois do ataque, a pessoa sente-se pequenina, vulnerável. E porque
o medo de voltar a “sentir-se mal” pode levar a que estas pessoas diminuam cada
vez mais a sua esfera de socialização, deixando de investir em sonhos e
projetos de vida.
Como ninguém merece viver a vida
assim, é fundamental escancarar aquilo que alguns destes pacientes têm
dificuldade em aceitar:
A perturbação de pânico pode e deve ser tratada –
com a ajuda da
Psicoterapia e com
medicação apropriada
(antidepressiva e ansiolítica).
Não tratada, esta é uma perturbação
que se torna progressivamente mais limitativa, roubando qualidade de vida,
discernimento e, claro, a possibilidade de se construir laços afetivos seguros
e que constituam fontes de realização.
Se sofre ou conhece alguém que
sofra desta perturbação, peça ajuda!