A aproximação daquela que é para muitos a grande pausa do ano (e
para alguns a única) potencia a elevação das expetativas. É natural que
comecemos a fazer uma contagem decrescente para as férias e que, nos dias
anteriores a nossa mente seja invadida por um conjunto de sonhos, projetos e
metas a alcançar. E ainda que tenhamos apenas alguns dias para viajar com o
cônjuge/ com a família, pode acontecer que demos por nós a elaborar mil e um
planos, a fazer uma lista dos lugares que queremos visitar ou, no limite, a
elaborar um roteiro, planeado ao milímetro, que nos permita aproveitar o verão
a 100 por cento. Nesse processo é possível que cometamos o erro de esperar de
mais da pessoa amada, contando com a sua concordância e ignorando que o nosso
companheiro pode, afinal, ter um plano diferente - e tem quase sempre.
Planos - seja
condescendente
Se quiser que o seu roteiro seja cumprido à risca, viaje
sozinho(a). A vida a dois - durante e fora do período de férias - não é
compatível com este tipo de exigências. Para que as férias possam ser uma fonte
de satisfação para ambos, com oportunidades de descontração, convívio,
diversão, descanso e cumplicidade é fundamental que os dois membros do casal
estejam dispostos a ceder. E isso implica, quase sempre, abdicar de algumas das
coisas que queríamos fazer, deixar de fazer alguns dos passeios que
idealizáramos ou até acordar mais cedo num ou noutro dia só para agradar à
pessoa amada. Se o fazemos com relativa facilidade no início das relações, por
que abdicaríamos desta competência, colocando em risco a relação?
Parar para não fazer nada
Algumas pessoas planeiam de tal forma as suas férias ao ponto de
quase não terem tempo para respirar. Às vezes fazem-no a dois, com a melhor das
intenções. Incluem dias de praia, mais do agrado de um, dias de passeio por
zonas cosmopolitas, ao agrado do outro, visitas a familiares que moram longe,
etc. E, na prática, discutem porque há um que, a determinado momento, parece
boicotar o que estava planeado, queixando-se de cansaço, dores ou outra coisa
qualquer… Não sendo propriamente impossível incluir no tal roteiro alguns
períodos de descanso, a verdade é que é crucial que sejamos tolerantes à
hipótese de o nosso cônjuge mostrar que, ao contrário daquela que é a nossa
vontade para um determinado dia, a sua vontade é de parar para descansar. Além
disso, ainda que ambos tenham muita vontade de visitar os 450 lugares
assinalados no roteiro, não é preciso cumprir o plano com um cronómetro. Às
vezes a melhor parte das férias são mesmo aqueles momentos em que, no meio de
uma paisagem, se “perde” mais algum tempo do que estava planeado “só” para
admirar o que está à volta e descansar, a dois. Ou quando se escolhe, de
improviso, ficar mais uma ou duas horas na cama, a preguiçar, como não é
possível fazer nos dias de trabalho, esses sim, recheados de obrigações.
Tempo para descomprimir
sozinhos
Outra das coisas de que a generalidade dos adultos sente falta –
em férias e fora delas – é de momentos de abstração, em que não haja a
obrigação de interagir com ninguém e muito menos de cumprir tarefas
específicas. Entre passeios previamente planeados e outras “obrigações” sabe
bem parar para ler o jornal, ver televisão ou espreitar a página de Facebook. E
a última coisa de que precisamos é de ter o cônjuge a gritar ao ouvido “mimos”
como “Mexe-te, temos de nos despachar” ou “Ainda não deste banho aos miúdos?!”.
As férias constituem a grande oportunidade para que possamos usufruir da
companhia do cônjuge e do resto da família. Mas isso não significa que
queiramos estar acompanhados 24 horas por dia. Na verdade, a maior parte das
pessoas precisa de alguns instantes a sós por dia. Instantes em que possa estar
em silêncio, sem ser incomodado, sem amarras. Com esforço, todos os adultos
podem ter direito a alguns minutos assim por dia.
Filhos - partilhar tarefas
Pois é, num mundo ideal as férias seriam gozadas maioritariamente
em silêncio, pontuadas por momentos de música e farra mas sem gritos de
crianças e, sobretudo, sem tarefas domésticas. Contudo, a maior parte dos
casais com filhos não tem sequer oportunidade de viver alguns dias de namoro
exclusivamente a dois. Então, se as crianças fazem parte do “pacote de férias”,
o melhor é aceitar que os cuidados que lhes são prestados sejam distribuídos de
forma equilibrada (e justa!) pelos membros do casal. O jogo do empurra não só
não é razoável como é potencialmente gerador de muita tensão para todos os
membros da família. Na medida em que um dos membros do casal se sentir
sobrecarregado/ injustiçado, esse é meio caminho para que as férias sejam
marcadas por discussões mais ou menos intensas, amuos e tudo aquilo que pode
estragar uma oportunidade para recarregar baterias.
A comunicação na presença
de outras pessoas (cuidado com explosões/ humilhações)
A propósito de discussões, não vale a pena idealizar que as férias
sejam um período imaculado, livre de qualquer arrufo ou tensão. Lembre-se de
que somos todos humanos, às vezes acordamos virados do avesso e as discussões
não têm de ser um tormento. Alguns arrufos são só isso mesmo, uma pequenina
briga, que passa na medida em que ambos forem capazes de colocar o essencial à
frente do orgulho. Mas uma briga de casal pode muito bem transformar-se numa
discussão perigosa na medida em que pelo menos um dos cônjuges se esquecer de
que é preciso contenção na presença de outras pessoas. Chamar estúpido ou outra
coisa qualquer ao seu cônjuge na presença da mãe dele pode constituir uma
humilhação e esta pode ser o rastilho para que uma pequena explosão se
transforme num momento especialmente tenso e muito mais difícil de ultrapassar.
Não prolongar braços de
ferro
Se passar por uma discussão intensa durante as férias, dê o seu
melhor no sentido de evitar que esta se transforme num braço-de-ferro que se
estenda indefinidamente. Gostaria que o seu cônjuge lhe pedisse desculpas? OK,
mas isso não tem de implicar que fique amuado(a) ad eternum. Coloque a mágoa de
lado e dê o primeiro passo. Qualquer tentativa de reaproximação será o melhor
caminho para que também o seu cônjuge abdique do orgulho e reconheça os seus
erros. Dar o primeiro passo não é ser submisso. É ser emocionalmente
inteligente e impedir que o conflito tome proporções perigosas.
As férias são suas. Faça as escolhas mais inteligentes.