Quase todas as pessoas já viveram desgostos de amor, nomeadamente daqueles associados ao facto de gostarmos de quem não gosta de nós. Mas não é a esse tipo de desilusões que hoje me refiro. Nem àquelas por que passamos na altura da adolescência. Refiro-me, isso sim, às desilusões que ocorrem nas relações entre adultos e que, de um modo geral, deixam marcas profundas e, nalguns casos, até implicam que as pessoas deixem de acreditar no amor.
Quem são as pessoas que vivem desilusões amorosas?
Haverá características de personalidade que nos
deixem mais vulneráveis a este tipo de acontecimentos?
Em teoria, qualquer pessoa pode viver uma desilusão amorosa.
Afinal, basta que nos afeiçoemos a outro adulto para que ele passe a deter um
imenso poder: o de cuidar (bem ou mal) do nosso coração. Uma relação pode até
começar relativamente bem, de forma equilibrada, tendo aparentemente tudo para
dar certo e, com a passagem do tempo, evidenciar sinais de mal-estar e/ou de
que aquelas duas pessoas estejam a caminhar em direções diferentes. Aquilo que
determina se o fim de uma relação será pacífico ou traumático tem a ver com as
nossas competências, com a nossa inteligência emocional. Sermos capazes de
reconhecer que (já) não estamos felizes requer discernimento, amor-próprio e
segurança. Quando, pelo contrário, ignoramos os sinais de mal-estar e nos
empenhamos em salvar uma relação com alguém que manifestamente tem objetivos
diferentes dos nossos e/ou não é capaz de vir ao encontro das nossas
necessidades, aumenta a probabilidade de o fim daquela relação ser traumático e
destrutivo.
Ignorar os sinais de que a relação está no fim implica
quase sempre que cometamos o maior erro numa relação amorosa:
TENTAR MUDAR O CÔNJUGE.
À medida que uma pessoa implementa estratégias mais ou menos
desesperadas para fazer com que o outro mude, cresce a escalada de
agressividade, as discussões tornam-se perigosamente intensas e frequentes e o
cansaço toma conta de ambos. Nesse processo, é usual que quem se esforça para
mudar o outro confunda amor com
dependência.
Uma desilusão amorosa implica que haja infidelidade?
Quando alguém prolonga uma relação porque pura e simplesmente não
é capaz de se imaginar a viver sem aquela pessoa, arrisca-se a perder o amor-próprio
e a adotar comportamentos progressivamente mais disruptivos, desgastando-se
tanto a si mesmo quanto ao cônjuge. Este stress eleva a probabilidade de o
outro se voltar para fora da relação dando início a um affair.
Como já referi tantas vezes, a infidelidade é SEMPRE uma escolha. E é uma escolha que em nada dignifica a pessoa
que a comete. Nestes casos, a relação extraconjugal não é mais do que um escape
para alguém que não aguentou a pressão nem tão-pouco foi capaz de assumir as
rédeas da própria vida.
Como é fácil de antecipar, esta escolha pode ser muito mais do que
a gota de água que faz transbordar o copo. É, isso sim, um passo para que o fim
da relação seja (ainda) mais tumultuoso e traumático. No final, a pessoa traída
sente que deu tudo e que os esforços foram, afinal, em vão. Mais: o facto de
ter sido enganada fá-la-á temer que o mesmo possa acontecer noutras relações e
potenciará o seu retraimento.
Apesar de ouvir com frequência este tipo de relatos não posso
afirmar que TODAS as desilusões amorosas estejam associadas à infidelidade. Na
realidade, há muitas pessoas que, ao fim de alguns anos, se sentem
profundamente desiludidas com as mudanças de comportamento do cônjuge sem que
este tenha sido infiel.