mostra que as dificuldades financeiras
estão a condicionar o número de divórcios.
A investigação evidencia que,
para uma percentagem significativa (15%) dos casais que decidem separar-se o
divórcio não é uma opção. Estes casais assumem o fim da relação mas, sobretudo
devido à incapacidade de se manterem financeiramente independentes, não avançam
para o divórcio. Note-se que estas pessoas tão pouco fazem qualquer tentativa
de reconciliação (ao contrário do que acontece com 5% dos participantes).
Em Portugal não são conhecidos os
números exatos mas qualquer terapeuta familiar constatará que a crise está a ter um impacto significativo
no número de divórcios. Isso tanto é visível pelo número de pedidos de
ajuda em terapia de casal que não traduzem uma real vontade de restaurar a
relação, como nos casos de terapia individual em que é precisamente o desespero
de não existirem condições financeiras para colocar um fim ao casamento que
motiva o pedido de ajuda. Infelizmente, na maior parte destas situações há
crianças envolvidas.
Como tenho referido noutros
textos, as crianças dependem da estabilidade emocional dos progenitores tanto
quanto dependem da qualidade dessa relação conjugal. Sendo o formato da família
tradicional aquele que, de um modo geral, mais favorece essa estabilidade, não
é menos verdade que, quando a relação se deteriora ao ponto de, pelo menos um
dos membros do casal, se divorciar do ponto de vista emocional, é fundamental
que passem a existir fronteiras claras e que a rutura seja assumida.
Todas as crianças sofrem
com a separação dos pais.
Quer isso dizer que o
divórcio
é a escolha que mais
prejudica as crianças?
NÃO.
Definitivamente não.
Sempre que os pais prolongam uma
relação que, na prática, não tem nada de harmonioso, as crianças são expostas a
níveis de instabilidade emocional preocupantes.
Nos processos de mediação
familiar (acompanhamento de casais em processo de separação) que tenho seguido
é evidente uma evolução positiva do bem-estar das crianças a partir do momento
em que uma relação deteriorada dá origem a um divórcio construtivo, marcado
pela circunstância de os dois progenitores colocarem os interesses dos filhos
no topo das suas prioridades.
Não sendo fácil avançar para um
divórcio quando há filhos pequenos, é-o ainda menos quando as condições
financeiras são desfavoráveis. Mas na medida em que todos os esforços forem
feitos para garantir a proteção dos interesses das crianças, o processo de
negociação entre os progenitores torna-se mais construtivo.