Sou regularmente confrontada – em sede de terapia de casal, terapia individual e até por email – por pessoas que mostram tristeza e desapontamento quando percebem que o atual companheiro mantém no seu computador fotografias de ex-namorado(a)s. De um modo geral, estas pessoas mostram desagrado independentemente de se tratar de fotos banais ou de conteúdo sexual, no entanto, o desagrado – e a reivindicação de apagamento das respetivas fotos (e vídeos) é maior quando se trata de material que exponha a nudez.
Ainda que em boa parte destes
casos o facto de aquela pessoa guardar estas fotografias não represente uma
ameaça real à relação, a verdade é que muitos são os que evidenciam desconforto
e insegurança. E é a partir daqui que tantas vezes surgem divergências que
podem ameaçar a estabilidade da relação. Se os membros do casal transformarem a
discussão num braço-de-ferro, mostrando-se incapazes de escutar atentamente as
necessidades do outro e de empatizar com as emoções associadas, entrarão
facilmente em ciclos viciosos em que há um que se mantém com a “pulga atrás da
orelha” e faz buscas regulares ao computador e outro que se esquiva deste
confronto prometendo apagar o respetivo conteúdo e escondendo-o em pastas mais
ou menos ocultas. Passam então a estar reunidas as condições para a existência
de discussões perigosas, sensação de incompreensão e distanciamento.
QUEM É QUE TEM RAZÃO?
No mínimo, se uma pessoa perceber
que o cônjuge se sente inseguro ou desconfortável com a manutenção daquelas
fotografias e, ainda assim, escolher mantê-las, estará a mostrar-se INSENSÍVEL. Pior do que isso, se essa
pessoa optar por mentir, dizendo que apagará as fotografias, é legítimo que
surjam dúvidas e inseguranças. Independentemente dos motivos que levem a que
alguém o faça – e algumas pessoas prometem apagar estas fotografias não tanto
porque empatizem com os sentimentos do cônjuge mas porque não conseguem mostrar
a sua própria opinião de forma assertiva -, a verdade é que esta é e sempre
será uma escolha desonesta e indigna de uma relação de compromisso.
Uma relação séria tem mesmo de
assentar numa base de confiança.
Ora, a partir do momento em que a
confiança for quebrada pode ser muito difícil restaurá-la. E para muitos casais
essa quebra acaba mesmo por ser irreversível.
É óbvio que o ciclo vicioso
também é alimentado pelo cônjuge que opta por aquilo a que eu chamo dos “COMPORTAMENTOS À DETETIVE”, realizando
buscas sucessivas ao computador (e ao telemóvel) do outro. Mas esse problema
(demonstração de falta de confiança que também não dignifica nenhuma relação) é
consequente da quebra de confiança inicial. Aquelas duas pessoas passam,
entretanto, a mostrar falta de confiança e de transparência – ingredientes
essenciais a qualquer relação.
Por mais difícil que seja assumir
a realidade, a verdade é que se uma pessoa se mostra insensível aos sentimentos
do cônjuge numa situação como esta, é muito provável que volte a fazê-lo no
futuro, pelo que a insistência nesta relação pode ser uma má escolha. Além
disso, quando alguém escolhe manter-se num relacionamento com uma pessoa em
quem não confie pode estar a cometer um dos maiores erros das relações
amorosas: considerar que vai conseguir mudar o outro.
Como tenho referido
noutros textos,
É IMPOSSÍVEL MUDAR O CÔNJUGE.