As perturbações do sono constituem um dos principais motivos por que muitos portugueses tomam ansiolíticos (calmantes). Como tenho referido por aqui, a insónia é muitas vezes, mais do que um problema, uma das manifestações de um problema mais sério – um transtorno depressivo ou ansioso. Independentemente daquilo que está por detrás desta perturbação do sono, uma coisa é certa:
A medicação ansiolítica NÃO é
tão eficaz no tratamento das insónias
quanto o é a psicoterapia, nomeadamente
as técnicas cognitivo-comportamentais.
É isso mesmo que demonstra um
estudo recente desenvolvido no Reino Unido.
Quando um paciente pede ajuda
terapêutica para tratar as insónias, há alguns passos específicos que permitem
que o sucesso seja alcançado:
- INFORMAÇÃO. Como em quase tudo na vida, ter informação implica ter
poder. É na medida em que o paciente seja informado sobre aquilo que condiciona
– pela positiva e pela negativa – o nosso sono que começa a perceber que tem,
efetivamente, algum poder sobre o seu problema.
- HIGIENE DO SONO. Como já tive oportunidade de explicar, há hábitos
que favorecem a existência de padrões de sono saudáveis e há hábitos que, ainda
que possam ser associados ao decréscimo do stress, produzem exatamente o efeito
contrário. Ser capaz de mudar esses hábitos implica ter efetivo controlo sobre
um problema que, a prazo, se torna potencialmente incapacitante.
- MONITORIZAÇÃO DOS PRÓPRIOS HÁBITOS. Os esforços avulsos dificilmente
produzirão mudanças significativas, pelo que é importante que o paciente
monitorize, por escrito, as suas tentativas para colocar em prática hábitos de
sono saudáveis.
- MONITORIZAÇÃO DOS PENSAMENTOS. A ansiedade a que as insónias tantas
vezes estão ligadas está quase sempre associada a pensamentos automáticos
negativos. É na medida em que esses pensamentos sejam identificados e
substituídos, através da terapia (reestruturação cognitiva) por pensamentos razoáveis
que, por sua vez, darão lugar a níveis significativos de bem-estar.
- INFORMAÇÃO SOBRE A MEDICAÇÃO. Muitos portugueses tomam medicamentos
em relação aos quais pouco ou nada sabem e isso é particularmente visível no
que diz respeito à medicação ansiolítica e antidepressiva. Dentre outras
questões, importa que o paciente tenha consciência de que os vulgares calmantes têm uma efeito aditivo, causando habituação,
e de curta duração (ao fim de relativamente pouco tempo passam a ser
necessárias doses mais elevadas para que o paciente consiga dormir).
Independentemente destes passos,
um processo psicoterapêutico consegue
aquilo que nenhum medicamento pode prover:
um olhar atento e abrangente sobre
as causas desta dificuldade e uma
resposta específica, ajustada a cada pessoa.