Quando se fala em intimidade, é natural que se confundam conceitos. A própria palavra é geradora de imagens mentais muito distintas. Para alguns, falar-se em relações íntimas implica que nos refiramos à componente sexual. Mas para outros uma relação íntima é, antes de mais, marcada pela proximidade emocional. Na verdade, intimidade é, ou pode ser, tudo isso.
No meu trabalho com casais
deparo-me diariamente com dificuldades desta natureza, com repercussões também
ao nível da sexualidade. Na generalidade dos casos, é preciso explorar os
recursos em várias áreas da conjugalidade para que se possa tratar as feridas
que existem e que se manifestam no campo sexual. Mas não é fácil explorar as
limitações existentes em termos emocionais. E, sobretudo, nem sempre é fácil
colocar os membros do casal em sintonia na busca da conexão perdida.
Porque, de forma
simples, intimidade conjugal é isso mesmo:
CONEXÃO.
Ser-se íntimo do nosso cônjuge é
ser capaz da partilha física e emocional. E, em função dessa partilha,
sentirmo-nos ligados àquela pessoa. Claro que também é possível sentirmo-nos
intimamente conectados a amigos e familiares. Mas a generalidade das pessoas
casadas ambiciona sobretudo sentir uma conexão inigualável com a pessoa amada.
Esse laço não é perfeito e constante.
Há períodos de maior
proximidade e outros de maior afastamento.
Há até momentos de
desconexão, de desamparo,
que se espera que
sejam rapidamente ultrapassados.
O laço que une os membros de um
casal também não é uma ligação que dependa SOBRETUDO da componente sexual. Mas
na generalidade dos casos é preciso que haja entrega e satisfação a esse nível
para que duas pessoas casadas (ou enamoradas) se sintam conectadas.
A intimidade conjugal
(também) depende da partilha verbal e não-verbal.
Dos gestos.
Das expressões faciais.
Do toque.
E das palavras que se escolhe para dar
resposta às solicitações do cônjuge.
O que é que acontece quando nos
esquecemos da força das nossas escolhas? O que é que acontece quando deixamos
de investir na intimidade da nossa relação? Expomo-la a ameaças externas.
Expomo-la à frustração, ao ressentimento, à mágoa, à distância e, claro, ao aparecimento de outras pessoas que, de
uma forma ou de outra, chamem a atenção para essas lacunas.
Na terapia de casais é fácil
perceber a ligação entre o nível de intimidade e a eficácia da comunicação.
Quanto mais pobre for a comunicação, menos íntima é a relação. E maior é a
insatisfação. É por isso que o investimento na comunicação clara, assertiva,
emocionalmente inteligente é tão importante em terapia. Técnicas terapêuticas à
parte, é crucial colocar os membros do casal a “deitar cá para fora” aquilo que
sentem, aquilo de que precisam. E, quando aprendem a fazê-lo, quando se sentem
seguros para tal, as oportunidades de voltarem a ligar-se crescem. Às vezes
isso implica recuar no tempo, revisitar momentos menos bons, enfrentar os erros
cometidos. Mas implica também que cada um possa voltar a sentir-se acolhido,
compreendido, amado. Essas mudanças, como quaisquer outras verdadeiramente
significativas, não acontecem da noite para o dia – muito menos quando o pedido
de ajuda surge depois de anos de estagnação e/ou de desgaste. Mas é possível
atingir níveis mais profundos de intimidade (e conexão) na medida em que ambos
estejam dispostos a sair da sua zona de
conforto e a arriscar novos comportamentos. Em terapia de casal isso quer
dizer:
Assumir que há um problema e mostrar vontade de o enfrentar;
Comprometer-se com algumas mudanças;
Ser capaz de prestar (mais) atenção à pessoa amada, de valorizar as suas necessidades mais importantes (sobretudo quando estas são diferentes das do próprio);
Ser capaz de mostrar empatia/ solidariedade de forma verbal e não-verbal;
Ser capaz de condescender em relação aos erros do cônjuge, em vez de “remoer” eternamente sobre eles;
Mostrar de forma clara quão importante a pessoa amada é.