Por medo.
Por pena.
Por se sentirem
culpadas.
Ou pura e
simplesmente porque não estão habituadas a ser assertivas.
Quanto mais vezes isso acontece,
maior a probabilidade de a pessoa se sentir frustrada, irritada. Na prática,
sempre que acedemos a fazer o que quer que seja contrariando a nossa vontade ou
os nossos princípios, é assim que nos sentimos: desiludidos! Daí que seja
crucial treinar a assertividade, sair da zona de conforto, arriscar mudar. Para
algumas pessoas isso passa sobretudo pela monitorização do próprio
comportamento, por estar atento às próprias necessidades e fazer um esforço no
sentido da firmeza. Mas para outras o processo pode ser mais complexo e moroso,
envolvendo a necessidade de intervenção psicoterapêutica.
Em qualquer caso, e como tenho
referido, ser assertivo é muito mais do
que ser frontal a qualquer preço.
Na prática, ser frio e direto está mais próximo da agressividade do que da
assertividade. Por outro lado, mostrar “demasiada” empatia ou solidariedade para
com o interlocutor também pode aproximar-nos de uma postura mais passiva e
menos assertiva.
Se nos focarmos apenas numa das
manifestações da assertividade – a capacidade de dizer não – é possível
identificar diferentes tipos de discurso. Sim, existem diferentes formas de
dizer não:
O “NÃO” DIRETO.
Quando alguém nos pede para fazer
uma coisa que não queremos fazer, é importante dizer simplesmente que não. A
ideia é que o façamos SEM LAMENTOS NEM PEDIDOS DE DESCULPA. O “problema” é da
outra pessoa e é crucial que façamos o que está ao nosso alcance para impedir
que ele/ela transforme a questão num problema nosso. Este tipo de “NÃO” é
particularmente ajustado em resposta a vendedores.
O “NÃO” SOLIDÁRIO.
Esta forma de dizer “Não” envolve
a capacidade para empatizar com o pedido e/ou as necessidades do interlocutor,
ainda que o discurso tenha de terminar com a recusa do que estiver a ser
solicitado. Um exemplo: Eu sei que
precisas de desabafar mas não vou poder almoçar contigo hoje.
O “NÃO” JUSTIFICADO
Este tipo de discurso implica uma
BREVE mas honesta justificação a respeito dos motivos por que temos de dizer
“Não”. Um exemplo: Não vou poder almoçar
contigo hoje porque o meu chefe quer que lhe entregue o relatório até ao fim do
dia.
O “NÃO” MOMENTÂNEO
Este “Não” corresponde, de forma
resumida, a sermos capazes de dizer Hoje
não ao mesmo tempo que assumimos o compromisso de aceder ao que nos é
pedido noutra altura. Este não é um “Não” definitivo, redondo. Deixa espaço
para um “Sim”, só que no futuro. Escusado será dizer que, para evitar
ressentimentos e frustrações, é crucial que o usemos APENAS se o “Sim” que
prometemos for genuíno. Um exemplo: Não
vou poder almoçar contigo hoje mas podemos encontrar-nos na próxima semana.
O “NÃO” INTERROGADOR
Este também não é um “Não”
definitivo. É uma forma de questionar se existem alternativas que nos permitam
ir ao encontro do que nos é pedido. Um exemplo: Não vou poder almoçar contigo hoje. Podemos encontrar-nos noutro
horário?
O “NÃO” À DISCO
RISCADO
Este “Não” é ajustado em muitas
situações. Basicamente, limitamo-nos a proferir a mesma frase vezes sem conta
(como num disco riscado). Não há mais nenhuma explicação. Só a repetição da
recusa. É um discurso particularmente útil para pedidos (pessoas) persistentes.
Um exemplo:
Pessoa A: Não, não vou poder almoçar contigo.
Pessoa B: Oh, vá lá. Não demora nada.
Pessoa A: Não, não vou poder almoçar contigo.
Pessoa B: Vem lá. Eu pago.
Pessoa A: Não, não vou poder almoçar contigo.
(…)
Pessoa A: Não, não vou poder almoçar contigo.