A terapia de casal está
comummente associada a crises conjugais, problemas sérios na relação, situações
de rutura iminente. Além disso, e porque esta forma de ajuda clínica implica
quase sempre algum esforço financeiro, associamo-la mais frequentemente a
casais de meia-idade, com alguma estabilidade profissional ou financeira. A
ideia de duas pessoas apaixonadas, prestes a dar o nó, recorrerem a um
terapeuta conjugal SÓ para se
prepararem para o casamento pode, por isso, parecer um capricho. Teoricamente
esta é, no entanto, uma das aplicações da terapia de casal. De resto, a
celebração religiosa do casamento inclui em muitos casos alguma forma de
aconselhamento pré-nupcial. Para os católicos, por exemplo, esta orientação é
feita por equipas CPM (Centros de
preparação para o Casamento). E se para alguns noivos estas sessões de reflexão
representam sobretudo uma formalidade necessária para o cumprimento da
cerimónia solene, para outros acaba por funcionar como uma oportunidade para
pensar em questões importantes de um ponto de vista diferente. Se, nesse
percurso, os noivos tiverem a sorte de se cruzar com equipas motivadoras e
desafiantes, aquilo que inicialmente era encarado como um mal necessário ou uma
seca pode transformar-se numa mais-valia com frutos que podem ser colhidos ao
longo do matrimónio.
Independente de o aconselhamento
pré-matrimonial resultar de uma imposição da instituição religiosa, de uma
atitude consciente e responsável de quem está prestes a assumir o compromisso
mais importante da sua vida ou até na sequência de dúvidas e inseguranças a
respeito desse passo, esta é SEMPRE uma oportunidade para parar e ponderar
sobre uma escolha que é, de facto, muito relevante para a generalidade de nós.
Se tivermos em consideração o número
crescente de divórcios e o facto de nem todos os casamentos resultarem de
uma decisão amadurecida da parte dos noivos, então torna-se mais fácil perceber
a pertinência desta ajuda.
Infelizmente, para algumas
pessoas casar é apenas celebrar o amor ao lado de familiares e amigos. Daí que,
quando alguém anuncia que decidiu casar, seja mais fácil pensar de imediato nos
pormenores da festa e respetivos preparativos. Preparação para o casamento
equivale, em muitos casos, a meses de dedicação à conceção da festa perfeita.
Não tendo nada contra a festa do dia do casamento – de resto, esta é uma
oportunidade para dar continuidade à construção de memórias positivas na vida a
dois -, cumpre-me o dever de chamar a atenção para o que são os desafios do
casamento.
Porque nem todas as pessoas se preparam para o que vem depois da festa
ou da lua-de-mel.
Porque nem todas as pessoas resistem aos primeiros embates, às
primeiras crises.
Na verdade, todas as teorias
românticas que nos condicionam o pensamento e contribuem para a elevação de
expetativas nos levam a acreditar que é possível amar a mesma pessoa a vida
toda sem percalços. Nos filmes a história acaba quase sempre quando o romance
está no auge, nos livros as crises são maravilhosamente superadas pela
intensidade dos sentimentos dos protagonistas e na vida real… as dificuldades
sucedem-se e a frustração acumula-se.
A terapia de casal é, por isso, muito mais do que a resposta profissional para casamentos à beira do fim. É, ou pode ser, uma ferramenta
poderosíssima no sentido de permitir que os noivos partam para o casamento com
mais competências, com mais segurança, em suma, com mais defesas para os tempos
difíceis que também compõem a vida a dois. Teoricamente não está ao alcance de
todos – precisamente porque implica algum esforço financeiro. Na prática, não
só é um bom investimento, como é
significativamente mais barata do
que boa parte dos pormenores à volta
dos casamentos. Infelizmente, em
Portugal gasta-se muito dinheiro na preparação da festa do casamento – tanto
que algumas famílias chegam mesmo a endividar-se em nome das convenções sociais
– mas recua-se quando os gastos envolvem coisas como a terapia.
E o que é que se espera de um
processo terapêutico nestas circunstâncias? Antes de mais, que os membros do
casal reflitam, a dois, sobre o caminho percorrido até aí, identificando os
recursos que compõem a sua relação, mas também as fragilidades. Por outro lado,
é fundamental que sejam capazes de meditar sobre os compromissos inerentes ao
passo que pretendem dar. Se é verdade que, para a maior parte das pessoas, o
casamento é muito mais do que um contrato assinado por duas pessoas, na prática
é muito importante que os noivos assumam que, com a vontade de celebrar
publicamente o seu amor, deve vir a capacidade para cumprir com algumas
obrigações (obrigações, sim!), bem como a capacidade para ceder, recuar, “dar o
braço a torcer”. Ao longo desta caminhada, como acontece quase sempre noutros
processos de terapia de casal, são desafiados a olhar para áreas da vida a dois
tão sensíveis como a gestão do dinheiro, a intimidade sexual ou as relações com
a família alargada.