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14.5.13

TRAUMAS ASSOCIADOS AO ALCOOLISMO DOS PAIS

Um dos grandes flagelos do século é, como se sabe, a depressão. Nem todas as vítimas deste transtorno recebem o tratamento adequado mas, daquelas que chegam ao meu consultório, há muitas histórias de vida com um elemento em comum – a convivência com um progenitor alcoólico. Em muitos destes casos, o pedido de ajuda não surge interligado com o passado mais ou menos violento. Porque tendemos a fixar-nos no aqui e agora, no que nos corre mal na atualidade, nas desilusões recentes, mais do que a olhar para trás, para as feridas emocionais que, estando longe de estar saradas, teimam em condicionar-nos o olhar sobre a realidade e, mais do que tudo, impedem-nos de viver em paz. Como um processo psicoterapêutico – individual ou familiar – serve precisamente para que a pessoa possa estruturar as suas emoções de forma sólida, é com relativa frequência que me deparo com os traumas associados ao alcoolismo dos progenitores.

Uma das marcas mais profundas relacionadas com este problema tem a ver com a desorganização familiar que, de um modo geral, decorre da circunstância de haver um alcoólico em casa (quando não são os dois progenitores). Essa desorganização – que nuns casos é mais evidente do que noutros – pode empurrar os filhos para uma espécie de maturidade precoce, que é tudo menos saudável. Muitas vezes sem que nenhum dos membros da família se dê conta, o filho assume o papel de cuidador do pai e/ou da mãe e é incapaz, mesmo depois de adulto, de se desvincular desse papel. Mas aquilo que pode ter funcionado como um mecanismo de sobrevivência acaba por revelar-se desajustado e comprometedor do bem-estar.

É que, a páginas tantas, o adulto filho de um alcoólico vê-se a si mesmo como a pessoa que “tem de” continuar a apagar todos os fogos ou que “tem de” resolver os problemas que não são seus. E este é um dos desafios destes processos terapêuticos: ajudar aquele adulto a desprender-se de problemas que não são seus para que, assim, possa viver a SUA vida.

Pelo meio, são frequentes as queixas de:
insatisfação e/ou desorientação profissional,
problemas no casamento
e dificuldade em manter amizades sólidas.

A pessoa pede ajuda psicológica numa altura em que a vida parece caótica (muitas vezes na sequência de uma rutura) e, com a ajuda devida, começa a perceber a origem das dificuldades. Escolher tratar essas feridas pode implicar o confronto com algumas mágoas mas representa também a oportunidade de mudar de vida e ser feliz.
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