Sinto-me sozinha. Sinto-me
desamparada. Sinto-me desajudada. Sinto-me sobrecarregada. Sinto-me triste.
Sinto-me revoltada. Sinto-me perdida.
Esta foi a resposta de Anabela à
pergunta “Consegue descrever, de forma clara, como é que se sente?”. Antes
desta pergunta Anabela fizera um rol de queixas em relação ao marido. Perante a
mesmíssima pergunta o Luís respondeu apenas “Sinto-me criticado”. Os seus olhos
talvez dissessem também “Sinto-me de
rastos”. Ainda antes do final daquela primeira consulta ambos acabariam por
assumir que foi assim que entraram no meu gabinete – de rastos. Estavam
demasiado cansados de discutir e, no entanto, se alguém pudesse espiá-los nas
últimas semanas, diria exatamente o contrário. Cada discussão parecia mais
vigorosa do que a anterior. E mais destrutiva também. Como se,
involuntariamente, estivessem a destruir o casamento com palavras de ódio,
crítica e desprezo. Entraram, sem perceber, num ciclo vicioso marcado pelas
críticas dela e pelo apagamento dele. Quanto mais ela o criticava, mais ele se
esquivava, enfurecendo-a…
Uma das regras de ouro dos
casamentos felizes e duradouros tem a ver com a questão das críticas. Costumo
dizer que, se cada um de nós fosse desafiado a discorrer sobre todos os
defeitos e falhas do cônjuge, seríamos perfeitamente capazes de elaborar uma
lista interminável; mas nenhum de nós
gostaria de ser confrontado com uma lista das próprias falhas.
Infelizmente, alguns casais caem num padrão de relacionamento em que há um que
se queixa por tudo e por nada e há outro que se defende e/ou se esquiva como
pode. Ora, se é verdade que, enquanto terapeuta conjugal enfatizo tantas vezes
a importância da assertividade ou a necessidade de cada pessoa ser capaz de
verbalizar as suas queixas e necessidades, também me compete chamar a atenção
para os perigos resultantes de uma
postura hipercrítica. E desenganem-se aqueles que considerarem que o
hipercriticismo é um exclusivo das mulheres. É certo que, de um modo geral, as
mulheres são mais minuciosas, mais atentas aos detalhes e, até, mais
perfeccionistas. Também é verdade que, no que diz respeito às tarefas
domésticas e à educação dos filhos, os “reparos” delas são muito mais
frequentes do que os deles. Mas, em sede de terapia de casal, aquilo a que eu
chamo uma postura hipercrítica é comum a homens e mulheres.
Para além de
constituir uma fonte de desgaste,
esta característica
na comunicação
é um sinal importante de que algo não está bem,
constituindo, por
isso, a face visível
de problemas sérios
naquela ligação.
Às vezes esse é o produto de anos
de insatisfação – a pessoa acumulou mágoas e frustrações que agora resolve
exteriorizar dizendo tudo o que lhe vem à cabeça; criticando, muitas vezes sem
dar por isso, o mínimo deslize do cônjuge. Noutros casos este é “só” o reflexo
do cansaço. E para outros poderá ser um sinal de que a relação está esgotada.