A perda de alguém próximo é um
dos acontecimentos mais difíceis de ultrapassar. A dor é a maior de sempre, a
sensação de impotência e de desamparo também. Na fase de crise, que normalmente
surge imediatamente após a perda, a pessoa enlutada pode sentir-se desesperada,
desesperançada num futuro minimamente feliz.
O tempo,
a família
e os amigos
tendem a devolver essa esperança e
a ajudar a completar o ciclo do luto.
O que acontece é que, de forma
gradual, a pessoa vai ganhando forças para se restruturar e, muitas vezes com
avanços e recuos, mais cedo ou mais tarde atinge uma fase de adaptação, marcada não pelo esquecimento mas pela
capacidade de voltar a sentir prazer com a própria vida e pela vontade de
voltar a sonhar.
Para algumas pessoas o tempo passa
mas a dor parece manter-se igual ao primeiro dia.
Podem até experimentar pequenos
períodos de aparente tranquilidade mas não chegam a atingir a fase de
adaptação. É como se andassem em círculos. A angústia profunda pode dar lugar a
episódios de raiva e/ou sentimentos de culpa a que sucedem novamente períodos
de angústia que podem ser caracterizados por manifestações de choro e lamentos
constantes. De um modo geral, a pessoa
acha que ninguém compreende verdadeiramente a sua dor e, em função disso,
pode considerar que ninguém a pode ajudar. De resto, é possível que os
familiares, colegas e amigos da pessoa enlutada já tenham desistido de o fazer.
Para a pessoa incapaz de
completar o ciclo do luto acontece algo curioso: a tristeza profunda em que
está mergulhada faz com que deixe de ser capaz de se recordar de alguns
acontecimentos vividos. É como se os apagasse da memória. O processo é
semelhante àquele que acomete as vítimas da perturbação pós stress traumático
ou de depressão profunda, em que há um apagamento de memórias significativas,
como se a intensidade dos sentimentos lhes toldasse o olhar. Mas no luto
crónico há uma exceção: na maior parte das vezes, a pessoa mantém a capacidade
de se recordar de todos os acontecimentos que incluam o familiar que perdeu. Paralelamente,
a pessoa deixa de ser capaz de se projetar no futuro sem aquele ente querido
mas é perfeitamente capaz de descrever – às vezes com detalhe – tudo aquilo que
gostaria de fazer com aquela pessoa.
Quando falamos desta forma de
lidar com a morte falamos evidentemente da necessidade de intervenção clínica –
quase sempre nas áreas de Psicologia e de Psiquiatria. No que diz respeito à
intervenção psicológica, a ajuda também passa por identificar novas metas, bem
como estratégias para que essas metas sejam alcançadas.
Definir objetivos e trabalhar nesse sentido
pode parecer impossível sem a intervenção especializada
mas é uma
realidade para quem tem a coragem de pedir ajuda.