O Facebook faz cada vez mais
parte do dia-a-dia de milhões de internautas e a sua utilização é quase sempre
impactante – nuns casos pela positiva, noutros pela negativa. Ainda há pouco
tempo escrevi aqui sobre algumas das potenciais vantagens desta rede social –
até em termos terapêuticos. Hoje foco-me numa perspetiva diferente, resultante
sobretudo da minha experiência clínica.
Que impacto pode ter o Facebook entre as pessoas que estejam
deprimidas?
Trará sobretudo vantagens ou desvantagens?
Enquanto plataforma de
comunicação, o Facebook tem o incomparável poder de nos colocar em linha direta
com pessoas que não víamos há muito tempo - antigos colegas de escola, amigos
que mudaram de país ou familiares a quem perdêramos o rasto. A maior rede
social virtual do mundo tem contribuído, assim, para que algumas pessoas se
sintam muito menos sós, menos desamparadas até. Nessa perspetiva, é, pelo menos
teoricamente, um aliado contra o
isolamento social e, portanto, contra a depressão. No entanto, essa vantagem pode dissipar-se se a pessoa
já estiver deprimida. De resto, uma das queixas que oiço com frequência
entre pacientes com depressão diz respeito ao facto de, aos seus olhos, o
Facebook colocar a nu o facto de as
outras pessoas serem quase sempre muito mais felizes.
Carolina tem 39 anos e tem enfrentado estados depressivos desde o
início da vida adulta. Voltou a pedir ajuda há pouco tempo tendo-lhe sido
diagnosticada uma depressão moderada. Uma das suas grandes fontes de angústia
diz respeito ao facto de ainda não ter conseguido estabelecer uma relação conjugal
estável, que lhe permitisse concretizar o sonho de ser mãe. Nos últimos tempos
perdeu o interesse pela maior parte das atividades que, antes, lhe davam algum
prazer, isolou-se dos amigos e tem tido dificuldade em concentrar-se no
trabalho. Passa muito tempo no Facebook, teoricamente porque isso a distrai.
Ali encontra partilhas de amigos – reais e virtuais – que dão conta de que
ficaram noivos, tiveram filhos ou fizeram viagens de sonho. Carolina queixa-se,
angustiada: “Toda a gente está feliz,
menos eu!”.
Uma das potenciais consequências
da depressão, para além do pessimismo generalizado, é a constante comparação com os outros, baseada quase sempre em
visões distorcidas e superficiais da realidade. Para o paciente deprimido é
fácil olhar em redor e chegar à conclusão que os outros estão todos muito bem e
que ele(a) é a única pessoa deprimida. Isto atrai pensamentos negativos como “O
que é que há de errado comigo?” ou “Porque é que estas coisas nunca acontecem
comigo?”.
Quando vemos uma família a passear
serenamente no parque ou no centro comercial, é impossível conhecer as suas
angústias ou preocupações. Aquilo que vemos é a imagem de uma família feliz, o
que nem sempre corresponde à realidade. O Facebook acaba por amplificar esta
visão distorcida da vida das outras pessoas, já que é muito raro alguém colocar
online as suas dificuldades de
relacionamento.
Salvo raras exceções,
quando visitamos os perfis dos nossos amigos,
aquilo que encontramos são fragmentos de momentos felizes.
Se é verdade que a maior parte
das pessoas acaba por ter a consciência de que a informação que é partilhada no
Facebook corresponde apenas a uma pequena e colorida parte da vida de cada um, também é certo que esse
discernimento pode estar comprometido quando se está deprimido.
Uma pessoa deprimida que não
esteja a ser clinicamente acompanhada pode acumular pensamentos negativos
baseados em comparações constantes entre a sua vida e aquilo que é partilhado
nas redes sociais, acabando por sentir-se progressivamente (ainda) mais em
baixo.
Quer isto dizer que o Facebook é uma ameaça para todas as pessoas com
depressão?
Definitivamente, não.
O Facebook tem, insisto, muitas
vantagens (mesmo para quem está deprimido). Mas é preciso ter consciência dos
potenciais efeitos negativos.