Patrícia está casada há 12 anos. Há cinco anos começou a sentir problemas na relação conjugal – o marido aparentemente perdeu o interesse sexual e o distanciamento instalou-se. Segundo conta, Patrícia foi fazendo esforços para que se reaproximassem, sempre sem sucesso. “Ele ia inventando desculpas e as coisas foram-se arrastando”, refere. Os gestos de afeto foram desaparecendo de forma progressiva, até que Patrícia e o marido passaram a viver “como irmãos”. Então, aconteceu aquilo que Patrícia imaginava impossível: envolveu-se com outra pessoa. Passou a acreditar que poderia ser feliz outra vez, que poderia voltar a sentir-se viva. Mas quando revelou o affair ao marido foi surpreendida pela vontade dele de lutar pelo casamento. Agora sente-se perdida. Durante anos clamou por atenção, mendigou manifestações de carinho do homem que amava. Hoje não sabe se é ou não capaz de voltar a sentir-se genuinamente conectada ao marido mas também não se sente capaz de largar tudo.
Este é um exemplo de um problema
que afeta muitos casamentos. Tantos, que se tornou banal falar na “crise dos 7
anos”. Mas se há alguns anos se ouvia falar nesta crise com algum otimismo –
“Todos os casais passam por isso” -, as atuais taxas de divórcio implicam que
se olhe para o problema com legítima preocupação.
Afinal, por que é que
isto acontece a tanta gente?
Por que é que ao fim
de 5, 6 ou 7 anos
de casamento as
pessoas passam a olhar
para o companheiro
como um chato?
Resumidamente, podemos dizer que
é uma questão de habituação – ao fim de algum tempo, a excitação que existe no
início de alguma coisa nova dá lugar à rotina e à monotonia. Os membros do casal habituam-se de tal
forma um ao outro que passam a sentir que o casamento – o seu, pelo menos – é
uma coisa chata. Esta sensação manifesta-se muitas vezes pela diminuição do
interesse sexual e, na medida em que o problema não for claramente discutido, o
distanciamento pode abrir espaço à vontade de ter um caso e/ou de avançar para
o divórcio. É como se o facto de as pessoas já não se sentirem apaixonadas como
no início implicasse que a felicidade só é possível fora do casamento. Na
prática, o que acontece é que muitas vezes um segundo casamento também se
transforma numa relação rotineira e monótona ao fim de algum tempo. O ciclo
repete-se.
Apesar de tudo isto, há muitos casais
que continuam a mostrar-se resilientes e a ultrapassar as crises do casamento.
O que os torna bem-sucedidos? Antes de mais, sabe-se que os casais mais felizes
e com relacionamentos duradouros são aqueles capazes de conversar sobre os acontecimentos mais mundanos do
dia-a-dia, aqueles que, no final de cada jornada de trabalho + filhos + tarefas
de casa, continuam a investir na partilha, na capacidade para ouvir atentamente
aquilo que o outro tem para contar. São aqueles que o fazem com algum sentido de
humor, aqueles que, passe o tempo que passar, sabem divertir-se juntos nos momentos mais banais. São os que reconhecem a importância da celebração
das conquistas na vida do cônjuge (mesmo as mais pequeninas). São os que
interiorizaram que o casamento requer um investimento mútuo contínuo. São os
que atribuem ao toque e aos gestos de
afeto a importância devida. Os que não se esquecem de investir nos gestos
de carinho.
Se a tudo isto acrescentarmos a
vontade (e capacidade) de planear férias ou quaisquer outros projetos A DOIS,
sair SEM OS FILHOS ou surpreender o parceiro com um gesto romântico, estão
reunidos ingredientes suficientes para a construção de um casamento saudável. A
vida às vezes pode ser particularmente difícil e os membros do casal podem desiludir-se
mutuamente. Se forem capazes de perdoar,
é mais provável que consigam fazer um longo e feliz percurso.