Quando uma pessoa bebe demais, chamamo-la de alcoólica. Se for um consumidor de heroína ou de cocaína, é um toxicodependente. Na prática, são viciados, adictos. Reconhecemos-lhes as compulsões. Tal como reconhecemos que há uma fronteira que separa a pessoa que de vez em quando aposta no Euromilhões daquela que fica ansiosa se não fizer as suas apostas. Mas até que ponto é possível falar em pessoas viciadas noutros comportamentos específicos?
Poderemos falar em viciados na Internet?
Ou em viciados em pornografia?
Qual é, afinal, a fronteira que
separa um comportamento normal de uma compulsão? Haverá sinais claros que nos
permitam ter a certeza de que as escolhas de alguém de quem gostamos não são
saudáveis?
Na verdade o padrão de
comportamento de uma pessoa que é “viciada” num determinado comportamento é
idêntico àquele que reconhecemos noutras compulsões. No início a pessoa sente
prazer associado ao comportamento. Tal como o consumo de substâncias produz
determinadas sensações positivas, uma pessoa que navegue na internet para fugir
aos problemas do dia-a-dia pode sentir alívio, descompressão. A pessoa sente-se
bem e, em função desse prazer inicial, repete o comportamento. E pode fazê-lo durante
períodos cada vez mais alargados.
Tal como acontece quando um
viciado para de consumir álcool ou drogas, podem surgir sintomas de ansiedade
associados à interrupção do comportamento. No caso da dependência da Internet,
foi feito um estudo em que os participantes eram avaliados 15 minutos depois de
serem forçados a desconectar-se. Esses testes mostraram que as pessoas mais
dependentes experimentavam um aumento nos níveis de ansiedade e depressão.
É indiscutivelmente necessária
muito mais investigação para que possamos perceber se alguns comportamentos que
nos habituámos a rotular de normais podem ou não transformar-se em adições. As
evidências vão apontando para que assim seja.