“Sou feliz por natureza”. Proferiu aquela frase indiferente aos olhares de surpresa de quem o ouvia. Afinal, acabara de relatar um conjunto de experiências a que a maior dos amigos não se submeteria. Mais: aquilo por que Sérgio passara enquanto emigrante, as dificuldades que vivera nos últimos meses, não foram suficientes para que desistisse do caminho que escolheu. Dois anos depois da partida conseguiu voltar a Portugal, de férias, mas continua longe de ter no estrangeiro as condições de vida que teria se estivesse no seu país. Emigrou em busca de um sonho e é lá fora que pretende continuar, apesar de todas as dificuldades. Onde uma parte substancial da família e dos amigos vê um obstáculo, Sérgio vê uma oportunidade. Onde os outros veem um problema inultrapassável, ele vê um desafio. E é feliz. Genuinamente feliz. O que o distingue?
O que é que nos torna mais
felizes?
Se cada um de nós se
confronta com um conjunto de desafios/ problemas e se todos nós temos uma
bagagem emocional que inclui vulnerabilidades, o que é que permite que alguns
sejam aparentemente mais competentes no que toca a ir em busca da própria
felicidade? Dir-me-ão que a vida é mais
madrasta para uns do que para outros. E é verdade. Há acontecimentos que,
de tão brutais, são autênticos ladrões de felicidade. Mas todos nós conhecemos
pessoas a quem a vida presenteou com perdas difíceis e que são exemplos de determinação, sucesso e
bem-estar. É como se, apesar de todas as contrariedades, houvesse alguma
força interior que lhes permitisse avançar.
Na verdade, quando
falamos de força interior falamos de um conjunto de competências que incluem o
bom senso, a integridade, a paz interior, a determinação, o altruísmo, a
inteligência emocional, o otimismo, a capacidade de relaxamento ou a resistência
à frustração.
Há pessoas que
nascem com a maior parte destas competências muito enraizadas mas, em média, apenas um terço da nossa força interior
nasce connosco. Isto significa que a maior parte destas competências podem
ser desenvolvidas ao longo da vida. E são-no, na medida em que escolhermos
desenvolvê-las.
Tal como acontece em
relação ao nosso corpo, que pode ser moldado através das escolhas que fizermos
quer em termos da alimentação, quer através do exercício físico, também o nosso cérebro pode ser trabalhado em
nome de níveis mais elevados de saúde e bem-estar.
Na medida em que
reconheçamos, por exemplo, que o tempo que escolhemos gastar com pensamentos
negativos e destrutivos é tão prejudicial ao nosso cérebro quanto a fast food é um inimigo da boa forma,
aumenta a probabilidade de fazermos escolhas emocionalmente mais inteligentes.
Se uma pessoa acaba
de perder o emprego, não será ajustado ignorar o problema e enfiar-se num
centro comercial para gastar as poupanças. Mas de pouco lhe valerá permitir que
os pensamentos mais catastróficos a inundem de ansiedade, impedindo-a de
arregaçar as mangas. Porque é isso que verdadeiramente distingue as pessoas
felizes: a capacidade de enfrentar as dificuldades arregaçando as mangas. E
para isso é fundamental treinar o nosso
olhar, aprender a deter a nossa atenção sobre os acontecimentos positivos,
saboreando-os. O otimismo é, como todas as outras competências que
identifiquei antes, uma ferramenta que pode ser desenvolvida. É preciso que nos
esforcemos para tal.
Se a nossa mente estiver
permanentemente ocupada com autocríticas, preocupações, reclamações sobre os
outros e acontecimentos stressantes, então é natural que o nosso cérebro esteja
a ser trabalhado no sentido da vulnerabilidade, da ansiedade e do humor
deprimido. Ao canalizarmos a nossa atenção para todas as ameaças e perdas que
nos rodeiam, sentimo-nos maioritariamente tristes, culpados ou enraivecidos.
Por outro lado, ao permitirmos que a nossa mente se detenha nos acontecimentos positivos (que podem ser
tão simples como o facto de alguém ter sido simpático para nós ou sentirmo-nos
gratos por termos um teto), nos sentimentos
mais positivos, nas boas intenções,
nas qualidades de quem nos rodeia,
então sim, à medida que o tempo passa o nosso cérebro vai sendo moldado de
forma diferente. É como se passássemos a olhar para a nossa realidade (com
todos os problemas e vulnerabilidades) de uma perspetiva otimista e com uma
força diferente.
Olhe para trás. Por onde tem andado a sua mente na última semana?
Tem prestado atenção aos momentos positivos? Tem prolongado deliberadamente as
experiências agradáveis como quando alguém é atencioso consigo? Ou, pelo
contrário, alimenta o seu stress com conversas intermináveis sobre
aborrecimentos que deveriam ser tratados como insignificantes?