Era aflitivo assistir aos jogos da equipa de futebol do pequeno Pedro. O pai, um amante da modalidade e fervoroso adepto daquele clube, assistia a cada treino do filho, bombardeando-o com recomendações aos gritos. Muito mais enervante do que qualquer treinador de bancada, mais agressivo do que qualquer treinador profissional. Não sendo razoável esperar que Pedro pudesse ser o Cristiano Ronaldo de amanhã, o que o movia? Se aos olhos do “Mister” Pedro jamais passaria de um jogador mediano, e, sobretudo, se os olhos de Pedro denunciavam mal-estar em relação àquela modalidade, por que é que o pai insistia em expô-lo àquela violência?
A maior parte dos pais que eu
conheço dão o seu melhor para que os filhos sejam felizes. E a verdade é que,
apesar dos tropeções inerentes ao percurso da paternidade/ maternidade, as
nossas crianças são, de geração em geração, progressivamente mais livres para
fazerem as suas escolhas. A maior parte dos pais já não torce para que os
filhos sejam médicos. E entre aqueles que torcem, há muitos que o fazem em
silêncio, respeitando os gostos, os interesses e as decisões de cada filho.
Esse é o papel de um pai e de uma
mãe: respeitar a individualidade de cada um dos seus filhos e aceitar que estes
possam fazer escolhas muito distintas daquelas que seriam as suas próprias
expetativas.
Orientando-os.
Chamando a atenção para os riscos
associados a algumas resoluções.
Responsabilizando-os.
Mas NÃO pressionando.
Em contexto clínico vou
encontrando alguns pais e mães com maior dificuldade em cumprir com esta parte
da sua parentalidade. Em muitos destes casos o problema está relacionado com frustrações antigas, como os sonhos que
eles próprios não foram capazes de cumprir. Noutras situações é o vazio do papel conjugal que dá lugar à
excessiva centração na vida dos filhos. Em todas as circunstâncias há um
elemento em comum:
Estes pais e mães olham para os filhos
como um prolongamento de si mesmos.
Dão o melhor de si no sentido de
garantir que os filhos cumpram com aquilo que eles esperam e, na maior parte
das vezes, acreditam que estão a zelar pelos interesses dos rebentos. Na
verdade, estão cegos. Ignoram aquilo que tantas vezes salta à vista de quem
está de fora. E, em função da pressão que (às vezes de forma inconsciente)
exercem, ouvem muitas vezes aquilo que querem ouvir.
Ser pai ou mãe também é ter
sonhos e expetativas em relação aos filhos. Mas é – tem de ser – muito mais do
que isso. É sobretudo estar atento às necessidades dos filhos, reconhecer e
validar as suas emoções. É ser suficientemente altruísta para abdicar das
próprias expetativas e aceitar que cada filho construa as suas de forma
responsável. Porque só assim podemos criar adultos confiantes, felizes.