Se é pai ou mãe e tem mais do que um filho, é provável que reconheça algumas diferenças entre eles no que diz respeito à autoestima. Ainda que o seu esforço e a sua dedicação sejam idênticos, a verdade é que há outros fatores que podem contribuir para que uma criança se transforme num adulto mais ou menos confiante. Ainda assim, pode ter a certeza: a autoestima dos seus filhos depende, em larga medida, daquilo que for capaz de investir na sua relação com eles. Partilho, por isso, algumas dicas que podem ajudá-lo nessa tarefa:
MOSTRE O SEU AMOR INCONDICIONAL.
Quase todos os pais e mães que
conheço amam os seus filhos mais do que tudo na vida. No entanto, alguns falham
na exteriorização desse amor incondicional. Quando um pai ou uma mãe mostra o
seu desagrado em relação às más notas do filho, está a contribuir
(positivamente) para a sua educação – mesmo quando há a necessidade de
implementar um castigo. Mas há um
impacto muito negativo quando uma criança sente que precisa de conquistar o
afeto dos seus pais através do seu desempenho escolar. Em terapia oiço com
alguma frequência os frutos deste equívoco de comunicação – filhos que
descrevem o quão pressionados se sentiam pelos pais e o quão desgastante foi
lutar para lhes agradar e pais que lamentam não terem sido capazes de mostrar
de forma mais clara o seu amor incondicional. Nestes casos, a criança
transforma-se muitas vezes num adulto inseguro, que considera que nunca está à
altura, que acha que as suas escolhas não são suficientemente boas.
OUÇA A OPINIÃO DOS SEUS FILHOS.
Não faz sentido que os pais se
demitam das suas responsabilidades e deleguem nas crianças a tomada de decisões
significativas. Mas tão pouco é saudável que as crianças não se sintam ouvidas.
Consultar os filhos, ouvir aquilo que eles têm a dizer – nomeadamente a
respeito de assuntos que lhes digam respeito – é dar atenção aos seus
sentimentos. A palavra final deve ser dos adultos, em particular quando falamos
de crianças pequenas, mas os filhos têm (ou devem ter) o direito de serem
ouvidos. Ao perceberem que a sua opinião importa, que é tida em consideração,
as crianças desenvolvem a sua
assertividade e sentem-se progressivamente mais seguras. Esta competência
revelar-se-á fundamental na reivindicação dos seus direitos noutros contextos
(na escola, por exemplo).
NÃO FAÇA COMPARAÇÕES.
Como se sentiria se os seus
familiares e amigos se centrassem permanentemente nas suas falhas e limitações?
Como se sentiria se alguém estivesse constantemente a destacar as áreas em que
você não é tão bom quanto provavelmente gostaria de ser?
Os seus filhos têm, tal como
todas as outras crianças, qualidades e limitações. Há comentários que são potencialmente destrutivos da autoestima de uma
criança. Por exemplo: “Olha para o teu amigo João. É o melhor aluno da
turma e ainda tem tempo para ir às aulas de guitarra. Porque é que não te
esforças como ele?”. Não há nada de encorajador numa mensagem como esta. Aos
pais compete reconhecer e valorizar as competências dos seus filhos,
abstraindo-se daquilo de que as outras crianças são capazes.
ACEITE AS EMOÇÕES DOS SEUS
FILHOS.
Confronto-me demasiadas vezes com
pais e mães que ralham com os seus filhos quando estes choram ou gritam,
indiferentes àquilo que deu origem àquela exteriorização. Esta escolha impede
que a criança veja as suas emoções compreendidas e passa a mensagem pouco
saudável de que a criança deve habituar-se a esconder os seus sentimentos.
Se os pais consideram que o
comportamento é desajustado à situação – porque a criança assume um comportamento
agressivo, por exemplo-, devem esforçar-se por transmitir aos filhos que é
normal que estes se sintam tristes, frustrados ou até enraivecidos mas que
aquela é uma forma errada de manifestar as suas emoções. Qualquer criança tem o direito de se sentir triste ou furiosa e aos
pais compete ajudá-las a manifestar verbalmente essas emoções. Às vezes é
difícil, muitas vezes implica gastar mais tempo na gestão do episódio. Mas este
é o caminho que permite que as crianças desenvolvam o sentido de justiça.
NÃO OBRIGUE OS SEUS FILHOS A TER
ATIVIDADES QUE DETESTAM
Se o início de cada ano letivo
implica que você tente desesperadamente que o seu filho se entusiasme com uma
atividade desportiva, é provável que esta busca corresponda a uma vontade sua e
não dele. Ele já tentou o basquetebol, o futebol, a natação e o judo e o
desinteresse é sempre idêntico? Então esqueça a ideia de o seu filho fazer
outro desporto além das aulas de Educação Física – pelo menos enquanto não for
ele a mostrar verdadeira motivação.
Alguns pais dão o seu melhor no
sentido de proporcionar aos filhos o acesso ao desporto, à música ou à
aprendizagem de línguas estrangeiras mas esquecem-se de que a imposição destas
atividades pode ser contraproducente. Se a criança odeia, por que se há de insistir?
O efeito pode ser perverso. Além de não haver nada de saudável no preenchimento
dos tempos livres com 37 atividades diferentes (há que permitir que uma criança
tenha tempo para ser criança), a
obrigatoriedade passa a mensagem de que, quando crescer, o seu filho deve
contentar-se com aquilo que os outros lhe quiserem impor (um patrão, por
exemplo), ignorando os seus próprios interesses e ambições.
DEFINA LIMITES.
Crescer num ambiente familiar
seguro e saudável não tem a ver apenas com liberdade. Pelo contrário, as
crianças precisam de saber que há regras e que algumas dessas regras NÃO SÃO
NEGOCIÁVEIS. Aos pais compete discernir sobre aquilo em que vale a pena ceder e
aquilo em que devem ser intransigentes. Se as regras forem pouco claras ou os
pais assumirem comportamentos demasiado flexíveis em relação ao que é
importante, o caos tenderá a imperar e as crianças crescerão com pouca
capacidade de definir o seu próprio rumo. Por oposição, se os pais assumirem
comportamentos rígidos em relação a TUDO, chegará um momento em que verão os
seus filhos revoltar-se com aquilo a que provavelmente rotularão de austeridade
excessiva.
DÊ O EXEMPLO.
Os seus filhos estão
constantemente a observá-lo e aprendem
mais com o seu comportamento do que com as “lições de moral” que for capaz de
dar. Ensine-os a sair da sua zona de conforto, a enfrentar o mundo com
otimismo, a correr atrás dos próprios sonhos. Mas não se esqueça de equiparar a
teoria à prática. De nada lhe valerá incentivá-los a correr riscos se não
estiver disposto a fazer o mesmo. De nada servirá dizer-lhe que devem ser
capazes de vencer o medo se você não der o exemplo.