De repente, sem que nada o fizesse prever, deixei de sentir motivação para ir trabalhar. Apetece-me ficar em casa, enrolado no edredão. Apetece-me hibernar. Sinto-me triste. Mas o que é que pode estar por detrás desta tristeza? Sinto-me preocupado com a crise, com a possibilidade de ser despedido mas não há nada que tenha mudado significativamente na minha vida nos últimos tempos. Sinto-me mais cansado mas tão pouco tenho feito mais exercício. Pelo contrário, acho que até tenho uma vida um pouco sedentária. A minha namorada acha que estou a ficar deprimido. Não sei se é isso. Lembro-me de me ter sentido assim há um ano mas depois passou…
Revê-se neste testemunho? É
possível que sofra de depressão sazonal, também conhecida como depressão de outono.
Algumas pessoas menos
familiarizadas com a Psicologia Clínica podem considerar bizarra a ideia de alguém
se deprimir com a chegada do mau tempo mas a verdade é que qualquer psicólogo
pode facilmente comprovar que há um aumento dos pedidos de ajuda clínica nesta
altura do ano. Aparentemente, o nosso cérebro é particularmente sensível à
exposição solar, acabando por ressentir-se com o encurtamento dos dias. À medida que os dias ficam mais pequenos,
há menor libertação de serotonina, uma substância que está associada ao humor e
à sensação de bem-estar.
Com a chegada do outono, e
consequente diminuição da exposição à luz, muitas pessoas passam a sentir-se
significativamente mais tristes, com vontade de se recolherem, de se fecharem
na sua concha. Por outro lado, esta tristeza e isolamento são muitas vezes acompanhadas
de alterações no apetite, nomeadamente o aumento
da vontade de ingestão de açúcares. É fácil perceber que, na medida em que
alguém passe mais tempo em casa, isolado, e a ingerir porcarias, haja aumento
de peso, o que, na maioria dos casos, agudiza a sensação de tristeza.
É evidentemente impossível mudar
o ciclo das estações do ano mas é SEMPRE possível fazer mais pelo nosso
bem-estar. E, neste caso, há alguns passos que qualquer pessoa pode dar no
sentido de contrariar o humor mais depressivo desta altura do ano:
SAIR DE CASA. O Inverno não é tão
convidativo a programas fora de casa quanto o Verão mas o vento e a chuva não
podem ser impeditivos da socialização e do divertimento. No nosso país, mesmo
nos meses mais frios, há alturas do dia em que é possível aproveitar os raios
de sol e usufruir dos benefícios da produção de serotonina. Sair de casa
implica ver outras pessoas, descontrair,
fugir dos pensamentos negativos. Este é, aliás, o melhor antídoto ao humor
depressivo.
FAZER EXERCÍCIO. Os benefícios do
desporto vão muito além da saúde física e da imagem corporal. Sempre que nos
exercitamos, contribuímos ativamente para a produção de substâncias que permitem
que nos sintamos mais relaxados. E,
paradoxalmente, é nos dias em que sentimos “zero vontade” de fazer exercício,
que este nos faz mais falta. Ao fim de uma hora, é provável que nos sintamos
mais enérgicos e, até, otimistas. Pelo contrário, uma vida sedentária agudiza o
pessimismo. Na medida do que a meteorologia o permita, é ainda mais eficaz
tentar fazer exercício ao ar livre.
ADOTAR UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL.
Não é por acaso que se ouve tantas vezes que “somos aquilo que comemos”. A comida é energia e, na medida em que
nos esforcemos no sentido de cumprir hábitos saudáveis, aumenta a probabilidade
de nos sentirmos mais capazes de enfrentar os desafios do quotidiano. Há uma
gratificação imediata associada à ingestão de doces e de fast food que é descompensada com a sensação de fadiga. Sermos
capazes de resistir à comida que sabe bem mas faz mal é compensador na medida
em que abre espaço para que o nosso corpo responda como queremos aos desafios
que lhe colocarmos.
DORMIR BEM. Ficar em casa é
muitas vezes sinónimo de estar horas a fio em frente à televisão, prejudicando o
próprio sono. Mas o sono é uma necessidade básica e, na medida em que uma
pessoa não descanse tanto quanto o corpo pede, aumenta a sensação de fadiga,
desorientação e desespero. Pelo contrário, o cumprimento de uma adequada higiene do sono é um passo
significativo para que haja energia logo pela manhã, independentemente do mau
tempo.
Quando estes passos não são
suficientes para lidar com a tristeza instalada e/ou quando os sintomas se
agudizam comprometendo o bem-estar e o desempenho das tarefas diárias, é
preciso pedir ajuda clínica.