Há fotografias publicadas no Facebook que me levam quase de imediato a questionar: porque é que aquela pessoa preferiu fotografar um momento tão especial em vez de o viver em pleno? Dir-me-ão que é perfeitamente possível viver um momento agradável em família ou entre amigos ao mesmo tempo que se agarra no telemóvel para o registar. E eu sou capaz de concordar. Mas só até certo ponto. Porque a verdade é que, como em quase tudo na vida, há limites. E na medida em que TUDO o que é significativo nas nossas vidas tenha de ser fotografado e publicado no Facebook, estamos quase de certeza perante um problema.
Porque há momentos de cumplicidade que se perdem.
Porque há ambientes românticos que são quebrados.
Porque há conversas que são interrompidas.
Tudo em nome da
vontade de registar e publicar.
A dinâmica instalou-se de tal forma
nas nossas vidas que, sem darmos conta, os smartphones
passaram a ter um lugar à mesa de refeição – em casa ou no restaurante. Mais:
há muito boa gente que se sente verdadeiramente inquieta (para não dizer
profundamente ansiosa) na medida em que se esqueça do telemóvel. Mesmo que
estejamos apenas a falar de um par de horas sem acesso ao dispositivo.
“É como se me sentisse despida”,
dizia-me uma senhora no consultório, mais centrada na ansiedade gerada por ter
guardado o smartphone na carteira,
longe do seu olhar, do que nas queixas do marido, que desenvolveu uma imensa
aversão ao iPhone da mulher. Para
ela, o telemóvel é uma ferramenta de trabalho, essencial à monitorização das
tarefas realizadas pela sua equipa. Para ele, este é o aparelho que veio arruinar
todos os momentos a dois – “É o amante.
E é impossível competir com ele”, queixa-se.
Para alguns, é a necessidade de estar permanentemente
contactável que sobressai. Porque há trabalho que fica pendente se não
houver resposta imediata a um email. Porque
há pessoas da família que “podem estar a precisar de alguma coisa”. Porque a
resposta a um SMS “só rouba 2 minutos”. Para outros é a necessidade de partilha. São as fotografias que se publica no
Facebook, no Instagram ou no Twitter. São as notificações que se recebe – cada
“gosto” e cada comentário funcionam como um aplauso de que algumas pessoas já
não prescindem. É o check-in que se faz e que permite marcar a localização
exata do utilizador – ir ao cinema, à praia ou a um festival deixa de ter o mesmo
prazer se a informação não for partilhada em tempo real.
Na prática há muita coisa que
escapa a todos os que desenvolvam uma relação de dependência com o seu
telemóvel (ou com qualquer outra ferramenta tecnológica):
Um momento de relaxamento pleno.
Uma conversa cúmplice.
Uma celebração.
Um abraço.
A vida.
Nomofobia não é um termo científico. Resulta do Inglês No-mo (No-mobile)
e refere-se à angústia e à ansiedade vividas por quem desenvolva uma relação de
dependência em relação ao telemóvel.