Sabia que é possível prever se um casal está ou não em risco de divórcio através da observação de uma discussão de 15 minutos? Não, não estou a referir-me a qualquer forma de bruxaria. Refiro-me, isso sim, àquilo que a ciência já oferece na área da Psicologia da Família. Concretamente, ao trabalho de John Gottman, que durante décadas tem observado casais no seu “Laboratório do Amor”. Contrariando muitos céticos, este psicólogo uniu-se a uma equipa de matemáticos e através das suas investigações conseguiu prever com mais de 90 por cento de precisão a probabilidade de um casal entrar em rutura.
É graças a pesquisas como esta
que hoje se sabe, por exemplo, que não é
o facto de um casal discutir que o coloca em risco de divórcio, mas antes a
FORMA como o casal discute. Há assuntos potencialmente geradores de tensão,
como o dinheiro, a educação dos filhos, a sexualidade ou a relação com a
família alargada. E é normal que duas pessoas que se amam estejam em desacordo
em algumas destas áreas sensíveis. O problema está precisamente em todos os
casos em que as discussões deixam de traduzir qualquer conexão emocional.
Resumidamente, os membros de um
casal mostram que o seu casamento está em risco – mesmo que não se apercebam –
quando, ao longo de uma discussão, mostram algum destes sinais de alarme:
HIPERCRÍTICA: É como se a pessoa tivesse uma lente negativa e só
conseguisse ver os erros do companheiro. Como consequência, assume uma postura
hipercrítica e, mesmo que não se dê conta disso, bombardeia o cônjuge com
múltiplas chamadas de atenção. Como se isso não bastasse, a pessoa tem muita
dificuldade em reconhecer os “bons comportamentos” do companheiro ou os seus
esforços para melhorar.
Nos casamentos saudáveis as pessoas também discutem, também se queixam
e também apontam erros. Mas, mesmo nos momentos de tensão, são capazes de
reconhecer os esforços do cônjuge e de valorizar o que o outro tem de melhor.
POSTURA DEFENSIVA: A pessoa que é criticada aproveita para
contra-atacar, defendendo-se assim de qualquer chamada de atenção que lhe seja
feita. Costuma culpabilizar o companheiro pelos problemas de casal, mostrando-se
quase sempre incapaz de assumir a sua própria responsabilidade.
Numa relação feliz e duradoura os membros do casal mostram de forma
clara a amizade que os une e procuram ser justos. Também há espaço para
acusações mas isso não os impede de reconhecer as próprias falhas. Uma chamada
de atenção não é sentida como um ataque pessoal. É, isso sim, um sinal de
alarme a que procuram dar resposta.
AMUO: A pessoa mostra-se indiferente em relação ao cônjuge,
fechando-se sobre si mesma. Não ouve ou finge que não ouve aquilo que o
companheiro diz, quase sempre numa tentativa de o punir por não estar a ser
capaz de perceber ou validar as suas emoções.
Num relacionamento saudável há espaço para a demonstração clara de todas
as emoções – até a raiva e a tristeza. E os membros do casal mostram atenção e
respeito por essas emoções. Isso não significa que sejam sempre capazes de
alcançar consensos. Significa tão só que um não ignora aquilo que o outro
sente.
DESPREZO: A pessoa mostra, de múltiplas formas, que é superior ao
companheiro. Mesmo que nem sempre se dê conta disso, é possível que humilhe,
ridicularize ou agrida verbalmente o cônjuge. Há um gesto que mostra na
perfeição o desprezo de uma pessoa em relação ao respetivo parceiro: revirar os
olhos. A pessoa não precisa de dizer nada porque aquele gesto diz tudo. Mostra
desinteresse, desrespeito, desconexão, desprezo.
Nenhuma relação saudável é pautada por este tipo de comportamentos.
Nenhuma. Se este padrão estiver instalado, é preciso anulá-lo imediatamente.