Eu não sei como é que você olha para si mesmo – não sei se você se considera tímido, extrovertido, simpático ou inseguro. Mas sei que a forma como você se vê condiciona, e muito, aquilo que você é capaz de alcançar na vida. A ideia pode parecer um cliché mas é sustentada em factos, em pesquisas e num conceito da psicologia social de que já aqui falei: o das profecias autoconfirmatórias. E o que são as profecias autoconfirmatórias? – pergunta você. Eu explico. Ma antes deixe-me contar-lhe uma história.
Rafael era um miúdo que
acreditava que não seria capaz de tirar boas notas. Na verdade, era mau aluno,
pelo que havia pelo menos um indicador que alimentava a sua crença. Nem todas
as pessoas o viam como um miúdo pouco inteligente ou limitado mas uma das
pessoas que mais o influenciava, a mãe, sempre o viu assim – como um rapaz
aéreo, incapaz de prestar atenção às aulas, com pouca vontade de se empenhar
nos trabalhos de casa e com pouca ou nenhuma vocação para contas e números. Ela
própria nunca foi boa aluna, completou o 9.º ano com dificuldade e começou a
trabalhar muito cedo. Rafael foi acompanhado através de consultas de Psicologia
na sequência da perda do pai e essa experiência permitiu-lhe questionar alguns
dos rótulos que atribuía a si mesmo. Numa das consultas, a conversa versava
sobre a sua falta de empenho nas aulas e nos trabalhos de casa. A dada altura o
psicólogo disse-lhe “Não há problema. O trabalho na construção civil é tão
válido como outro qualquer. Ser pedreiro é uma profissão tão digna como a
minha.”. Ainda que estivesse a dizer uma verdade inquestionável, o propósito
era outro – provocá-lo, picá-lo. Rafael saiu daquela sessão enfurecido mas os
benefícios foram praticamente imediatos. Aquela raiva foi quanto bastou para
que tivesse vontade de mostrar ao psicólogo que ele não era burro. Porque para
ele, a sugestão de trabalhar nas obras não era mais do que chamá-lo de burro. O
acompanhamento terapêutico continuou mais alguns meses. Este ano o Rafael
concluiu a sua licenciatura e foi um dos melhores alunos da sua turma.
Voltemos às profecias
autoconfirmatórias. Elas não são mais do que isto:
- Eu tenho uma crença a respeito de mim mesma. Vejo-me de acordo com determinado rótulo.
- Essa crença influencia (às vezes toma conta d)o meu comportamento, a forma como me relaciono com os outros.
- As minhas ações têm um impacto na forma como as outras pessoas me veem.
- Em função desse impacto, as pessoas comportam-se comigo de acordo com o rótulo que eu pus a mim mesma.
- Quando isso acontece, a minha crença é reforçada.
- O ciclo vicioso ou frutuoso instala-se.
Vejamos outro exemplo:
Se eu tiver de ir a um jantar
onde não conheço quase ninguém, é fácil antever a “força” que os rótulos podem
ter:
- Eu acredito que não costumo causar boa impressão e acho que ninguém vai querer falar comigo.
- É provável que eu chegue ao restaurante com ar sério, ansiosa, distante.
- As outras pessoas vão sentir dificuldade em ver-me como uma pessoa acessível, simpática.
- Essas pessoas acabarão por interagir comigo mostrando pouco entusiasmo ou podem pura e simplesmente ignorar-me ou afastar-se de mim.
- Eu confirmo as minhas expectativas – “Não sou boa nisto”.
- Para a próxima, posso nem sequer aceitar o convite.
Quando tomamos consciência de que
o poder para quebrar os ciclos de negatividade está em nós, aumenta a
probabilidade de fazermos escolhas muito diferentes das habituais em busca dos
sonhos que, entretanto, passamos a encarar como concretizáveis. Eu não acho que
qualquer pessoa pode ser um ídolo de Hollywood só porque acredita que é capaz.
Mas tenho a certeza de que uma pessoa dificilmente desenvolve o seu potencial
se ficar agarrada a determinados rótulos.