“É a lei da vida”, dizem uns, enquanto encolhem os ombros. “Custa tanto”, dizem outros, dando voz à sua tristeza. O momento em que os filhos saem de casa até pode ser, aos olhos de quem está de fora, “só” mais uma etapa do ciclo de vida das famílias. Quem está a passar por isso sabe que, por maior que seja a vontade de ver os filhos voarem e cumprirem os seus sonhos, esta não deixa de ser uma fase difícil.
Há algumas pessoas que se sentem
mais fragilizadas e para quem a saída dos filhos de casa pode implicar que a
saudável tristeza se transforme num estado depressivo, que obriga à necessária
ajuda clínica. As pessoas mais
vulneráveis são: aquelas que também tiveram dificuldade em sair de casa
(mais apegadas), as que têm um casamento infeliz, as que resumem a sua
identidade ao papel parental, as pessoas que, de um modo geral, lidam mal com a
mudança, as mães a tempo inteiro (domésticas) e os pais que acham que os filhos
não estão preparados para dar este passo.
Partilho algumas dicas que podem
revelar-se frutuosas:
PREPARE-SE PARA A PARTIDA. Esta é, de facto, mais uma etapa para a
qual você pode preparar-se. Qualquer pai ou mãe tem um papel importante a
desempenhar e que passa por preparar os filhos para as mudanças que aí vêm. Ensine
ao seu filho as competências de que ele vai precisar para ser autónomo. Ajudá-lo
contribuirá para que você se sinta realizado. Se for apanhado de surpresa com a
decisão repentina do seu filho, não entre em pânico e fique contente por ele.
Mostre-se disponível.
AFASTE OS PENSAMENTOS NEGATIVOS. O seu filho pode oscilar entre o
medo do desconhecido (e das novas responsabilidades) e a euforia. Quando ele se
mostrar receoso, dê-lhe força. Não torça para que tudo dê errado, alimentando
os seus desejos mais egoístas. Mostre que vai lá estar sempre mas não o
incentive a recuar.
MANTENHA-SE EM CONTACTO. O telefone serve para colmatar a sua solidão
mas não espere que o seu filho esteja sempre disponível. Dê voz às saudades que
sente, ora através de um telefonema, ora por SMS mas respeite a vontade dele de
estar com os amigos ou com a pessoa com quem vive. Tire partido do e-mail mas
não espere respostas imediatas ou muito longas. Lembre-se de que ele está a
começar uma nova e estimulante vida e que o tempo escasseia. Pode passar mais
tempo sem lhe dizer nada mas isso não significa que não goste de si da mesma
maneira.
RECONHEÇA OS SINTOMAS. Esta é uma fase da vida que pode coincidir
com a menopausa, com situações de doença ou com a sua reforma. Esteja atento
aos sinais de depressão. A tristeza é normal, afinal, sobretudo a maior parte
das mulheres encara o papel parental como a prioridade da sua vida. A pessoa
pode sentir-se inútil, só, com vontade de chorar. Ultrapassar esta crise pode
levar até 2 ANOS mas o que é expectável é que, tal como no luto, vão existindo
sinais de adaptação. Peça ajuda se se sentir bloqueado. Converse com o cônjuge
– é possível que ele também se sinta assim. E mesmo que não sinta, pode ser
solidário consigo.
OLHE PARA AS SUAS PRÓPRIAS NECESSIDADES. O seu filho está
encaminhado. É tempo de voltar atrás e recuperar os seus interesses – aqueles
de que teve de abdicar em nome na maternidade/ paternidade. Faça um diário, uma
lista de interesses. Arrume o quarto dele, não o transforme num museu. Lembre-se
de que a existência de novas atividades para si pode implicar o aparecimento de
novos amigos. Faça voluntariado ou qualquer outra coisa que o preencha.
REDESCUBRA O SEU CASAMENTO. Faça planos, concretize uma viagem.
Tire partido da sua casa e da folga financeira que resulta da saída dos filhos.
Fale abertamente sobre o que mudou. É normal que o seu cônjuge também tenha
mudado entretanto. Tente descobrir esta pessoa. Se se sentir desconectado, considere
a terapia de casal.