Eu nunca traí a minha mulher. Tenho vontade de o fazer? Tenho. Porque é que não o faço? Porque aquilo que nós temos é demasiado especial. Eu olho para algumas mulheres à minha volta e acho-as atraentes. Isso não significa que fosse capaz de ter um caso com alguma. Não era. Não quero.
Nos tempos que correm a
infidelidade é o prato do dia. Toda a gente conhece alguém que já tenha vivido
a experiência e quase toda a gente acaba por fazer figas e pensar “Deus me
livre de uma coisa dessas”. Felizmente, a maior parte das pessoas leva a sua
vida sem medo de que a traição bata à porta. Não seria suportável viver
permanentemente com medo de que uma fatalidade como esta pudesse acontecer. Mas
isso tão pouco quer dizer que seja saudável descansar à sombra da bananeira,
dando o outro como adquirido. É fundamental que, pelo menos de vez em quando,
possamos parar para pensar no investimento que temos feito. É razoável que nos
sintamos seguros numa relação na medida em que tenhamos a certeza de que
continuamos a fazer com que o outro se sinta ligado. Se ele/a começar a dar
sinais de insatisfação ou de desconexão, é preciso refletir sobre o que está e
o que não está a acontecer.
Parece óbvio que a probabilidade
de duas pessoas QUEREREM continuar juntas está diretamente relacionada com o tempo de qualidade que passam juntas.
Quanto mais momentos positivos forem vividos a dois, mais saudável é uma
relação. Mas se no início tudo se faz para inventar tempo para o romance, à
medida que os anos passam e as responsabilidades se avolumam, também é
relativamente fácil permitir que a agenda se encha de obrigações acabando por
sobrar pouco ou nenhum tempo para o namoro. Numas alturas é o volume de
trabalho, noutras são as compras por fazer, e entretanto há filhos que monopolizam a atenção dos pais, há avós
que enfrentam a inevitável debilidade física e a quem os membros do casal têm
de dar a devida assistência. De repente, parece que o mundo inteiro se uniu
para dar cabo do romance!
Na prática, o tempo é o bem mais
democrático que existe – o dia tem 24 horas para todos – e compete-nos a nós
gerir as nossas obrigações de maneira a impedir que elas nos distraiam do
essencial. Quanto mais claro estiver para cada um a importância que o outro
tem, mais provável será que ambos reconheçam que o “tempo de qualidade” de um romance NÃO está nos fins-de-semana românticos
ou no tempo que não se tem. Está na capacidade de telefonar a meio do dia “só”
para saber se a indisposição da manhã já deu tréguas. Está na vontade de mimar
o parceiro quando se escolhe passar na padaria para levar pão quente “só”
porque ele/a gosta. Está na inteligência de deixar as crianças com os avós “só”
para que uma ida ao supermercado seja mais uma oportunidade de andar de mão
dada e dar beijos na boca. Está nos almoços de domingo em casa da sogra “só”
para o/a ver sorrir. Está na verbalização das saudades que se sente quando
ele/a tem de viajar em trabalho.
Quando se constrói uma ligação
assim, não se passa a ser cego e a ignorar os outros homens/ as outras
mulheres. As pessoas física e intelectualmente atraentes vão continuar a
circular à nossa volta. Mas a probabilidade de QUERERMOS meter-nos com elas é
infinitamente menor.