Se há uma coisa que eu tenho aprendido com o meu trabalho, é que a maior parte dos pais e mães de hoje dão o seu melhor para que os filhos sejam felizes. Fazem do papel parental a sua prioridade (às vezes esquecendo-se um bocadinho de si mesmos) e batalham para que os filhos se sintam seguros do ponto de vista emocional. É claro que cometem erros. Todos os pais cometem erros diariamente. Porque às vezes salta a tampa. Porque às vezes a paciência se esgota. Porque no meio da azáfama é muito fácil desvalorizar um pedido de atenção que surja sob a forma do milionésimo “Oh mãaaaaaaaaaaaaaaaaae!” do dia.
Entre birras, trabalhos de casa,
zangas entre irmãos, mudas de fraldas e resistência na hora de ir dormir, nem
sempre é fácil encontrar tempo para escutar as crianças, para conhecer as suas “preocupações”,
aquilo que as enraivece. E às vezes há angústias que se transformam em grandes
dramas, há silêncios que se transformam em preocupações mais sérias, há fossos
que se instalam e que potenciam o afastamento. Depois chega a adolescência e,
se não houver raízes sólidas no que diga respeito à conexão e à intimidade
emocional, é relativamente fácil que os pais comecem a desesperar por, a
páginas tantas, não conseguirem comunicar com os filhos.
A verdade é que ninguém consegue
estar sempre “lá”. Ninguém consegue ser um super pai ou uma super mãe sempre
presente, sempre a par de tudo. Mas há alguns hábitos que todos os pais e mães
podem assumir e que podem ajudar a criar
laços mais seguros (e crianças emocionalmente mais inteligentes). Aos pais
não compete serem psicólogos dos filhos. Mas compete serem o porto seguro. E
isso consegue-se com boas práticas:
Preste atenção às emoções dos seus filhos. Mas preste meeeesmo atenção. Há situações em que o
seu filho está a chorar porque gostaria de trazer para casa três homens-aranha
e você teve de dizer não. Nesse caso, você sabe que ele está a fazer uma birra.
Mas há outras situações em que você assume que ele está a fazer birra e
corre riscos.
Reconheça a manifestação de uma emoção como o momento ideal para criar
intimidade e fazer aprendizagens. Quando você “perde” tempo a conversar com
o seu filho (a posteriori) sobre a birra que ele fez no meio do toys-r-us, está a ajudá-lo a discernir
sobre o que é ajustado e o que não é ajustado. Mas também está a criar laços.
Porque mostra que é capaz de ouvir as motivações da criança. Porque mostra como
é que você se sente naquela situação. Porque mostra, através do exemplo, que é
a conversar que as pessoas que gostam umas das outras se entendem.
Ouça, mostre a sua solidariedade, valide os sentimentos da criança.
Você não pode ser insensível ao ponto de achar (e dizer) coisas como “Isso não
é normal!”. É óbvio que é normal que o seu filho queira muito ter 3
homens-aranha. Assim como é normal que você queira ter um Porsche. Ele tem o
direito de se sentir injustiçado. E você tem o dever de validar esse
sentimento. Depois também tem o dever de lhe dizer que há muitas formas de se
expressar uma emoção.
Ajude a criança a dar um nome aos seus sentimentos com as suas próprias
palavras. Você não está à espera que o seu filho de 4 anos lhe diga que se
sentiu frustrado, pois não? Ele só sabe que a situação foi desagradável e
geriu-a como pôde. O seu papel é ajudá-lo a dar um nome a cada sentimento e
explicar que uma emoção pode dar origem a comportamentos muito diferentes.
Trace limites. Você é (tem de ser) uma figura de autoridade. Quando
está a ajudar o seu filho a resolver problemas ou a lidar com situações
desagradáveis, tem a responsabilidade de o ajudar a perceber até onde é que ele
está autorizado a ir. Tem o dever de lhe explicar que os comportamentos
implicam consequências. Tem a obrigação de impor regras.