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5.2.14

AMOR-PRISÃO


São elas. São maioritariamente elas que caem neste padrão de relacionamento. Chamo-lhe um AMOR-PRISÃO mas poderia chamar-lhe relação abusiva. Por que é de violência emocional que se trata, mesmo que elas (às vezes eles) levem muito tempo para o reconhecer. Tempo suficiente para que haja danos que tantas vezes se prolongam por anos. Mas do que falo quando me refiro a este AMOR-PRISÃO?

Falo de uma relação que, gradualmente, toma conta de toda a vida da pessoa. Não, não estou a referir-me à aceleração e ao fogo característicos da paixão. Não estou a falar daquilo que acontece quando nos encantamos por alguém. Da circunstância de só falarmos daquela pessoa, de quão fantástica ela é ou de como nos faz sentir únicos, especiais. Isso é normal. Isso é saudável. Falo do afastamento que o AMOR-PRISÃO impõe – a pessoa começa por passar cada vez menos tempo com os amigos porque ele/a não gosta e nem se questiona sobre o impacto desse distanciamento. Vai perdendo momentos importantes das vidas daqueles que até há bem pouco tempo eram fontes de afeto, de suporte e de bem-estar. Vai deixando de fazer parte das rotinas. Vai-se isolando. E chega o dia em que também é necessário afastar-se da família. Porque ele/a não gosta. Porque implica. E a pessoa cede. Para evitar confusões. Para evitar discussões.

Sem se aperceber, a pessoa que vive um AMOR-PRISÃO vai fazendo concessões em nome de uma paz podre. Quer evitar discussões. E, ainda assim, elas – as discussões – teimam em parecer. Parece que nada do que a pessoa faça é bem feito aos olhos da pessoa amada. E, num ciclo vicioso, a autoestima decresce e a única coisa que passa a interessar é a opinião daquele AMOR-PRISÃO. A pessoa vive centrada em agradar. Em não desagradar. Porque se a pessoa amada se enervar…

Não quer dizer que haja violência física. Muitas vezes não há, o que dificulta a perceção de quem vive um AMOR-PRISÃO.

“Ele/a não é violento/a! Afinal, nunca me bateu!”

Mas a violência está lá. Está presente quando a pessoa deixa de se sentir livre para emitir a sua opinião. Está presente nas discussões intermináveis, quase sempre marcadas por exercícios de manipulação. Mas também por insultos e humilhações. A violência está lá quando, em nome deste AMOR-PRISÃO, a pessoa que ambicionava sentir-se completa, plena, passa a sentir-se só. Quando gasta toda a sua energia para agradar ao monstro. Claro que, enquanto o AMOR-PRISÃO durar, o monstro continuará a ser visto como um príncipe. Um príncipe com problemas. Um príncipe cujas vulnerabilidades o impedem de fazer as escolhas certas. E a pessoa vive convencida de que os seus esforços serão recompensados. Acredita que o pode salvar. Que o pode libertar das mágoas do passado. Ajudá-lo a ser feliz. E investe tudo nessa missão. Sem perceber que está apenas a abdicar da sua própria felicidade.

A pessoa passa muito tempo, às vezes todo o tempo, a esforçar-se para que o relacionamento resulte e não se apercebe de que não está a usufruir de qualquer bem-estar. Não está a aproveitar a relação, mesmo que esteja a dar tudo para que ela se mantenha.

E até pode chegar o momento em que a pessoa percebe que não está bem. O momento em que se queixa. Mas as queixas caem em saco-roto porque do outro lado não está alguém maduro, responsável, com vontade de lutar pela relação. Do outro lado está quase sempre alguém autocentrado, incapaz de atentar a outras necessidades que não sejam as suas. Está alguém que pressiona, manipula, agride.

Que amor é este? É de loucos, dizem elas (às vezes eles). É brutal. É intenso. Mesmo que a intensidade da paixão só seja reconhecível nos primeiros tempos. Depois a intensidade só é visível na força das acusações, na violência das discussões, na brutalidade das ameaças. Até onde podem ir as ameaças? - “Olha que me mato! Não vês como és importante para mim? Por que não fazes o que te peço?”.


No AMOR-PRISÃO não há tranquilidade. Não há admiração. Não há respeito. Há um refém. Que pode dizer BASTA e escolher ser feliz.

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