Num mundo ideal os casais não discutiriam. Não haveria tensões, não haveria insultos, ninguém se irritaria e, portanto, não haveria mágoas. Na vida real há tudo isto, o que quer dizer que, com mais ou menos ferramentas, cada um tem de encontrar formas de fazer as pazes, por mais séria que possa ter sido a discussão, sob pena de a relação terminar. Por incrível que possa parecer, há quem nunca peça desculpas, nunca tente uma reaproximação, nunca tome a iniciativa de retomar a normalidade depois de um momento de tensão. Claro que, mesmo que do outro lado esteja um santo, essas são relações que estão quase sempre condenadas. Nas relações “à séria”, aquelas que duram várias décadas e em que as pessoas estão verdadeiramente empenhadas em continuar juntas porque gostam uma da outra, há ferramentas para lidar com as discussões, mesmo as mais acesas. De uma forma ou de outra, os membros do casal acabam por encontrar alguma estratégia para se reaproximarem em vez de ficarem meramente à espera que o tempo passe e a tensão se desvaneça.
Antes de mais, interiorize esta regra:
AS DISCUSSÕES NEM SEMPRE SÃO O QUE PARECEM. Não se foque apenas no assunto que
deu origem à discussão. É possível que você e a pessoa de quem gosta tenham
estado várias horas a discutir sobre dinheiro ou outro assunto qualquer quando,
na verdade, a tensão existente diz respeito a sentimentos mais profundos não
identificados. Como o medo de não
estar à altura. Ou o medo dos juízos
de valor que a família alargada possa fazer. Ou o medo do abandono. A questão é que quando nos sentimos inseguros
tendemos a alarmar-nos e, quando a ansiedade sobe, disparatamos (não
necessariamente pelos motivos certos). Procure conhecer aquilo que está,
realmente, a perturbá-lo. Ou aquilo que poderá estar a perturbar o seu
companheiro. Este passo permitir-lhe-á mais facilmente empatizar com o seu
cônjuge e tomar a iniciativa de o confortar, apesar da discussão.
Mas sejamos claros: uma discussão sobre
dinheiro pode ser “só” uma discussão sobre dinheiro, pelo que é fundamental que
você aprenda a manifestar o seu desagrado. Aprenda a fazê-lo de uma forma não
violenta, centrando-se na forma como se
sente a propósito de um
determinado comportamento do seu companheiro ou de uma determinada situação. Evite fazer generalizações (“sempre” e “nunca”
são palavras proibidas), evite falar de 367 episódios diferentes, evite que a
pessoa de quem gosta se sinta atacada.
ASSUMA A SUA RESPONSABILIDADE. Já o
disse aqui. Há muitos momentos numa relação de compromisso em que você tem de
fazer uma escolha: quer ter razão ou
quer ter uma relação? Não me refiro à possibilidade de assumir
sistematicamente o papel de quem se humilha, de quem sabe que foi vítima de um
episódio de violência e, ainda assim, opta por pedir desculpa. Refiro-me à
possibilidade de você ser capaz de reconhecer que, de um modo geral, numa
discussão, ambos erram e ESCOLHER dar o primeiro passo. Saiba que normalmente
essa é uma escolha muito frutuosa. O seu companheiro pode – e provavelmente
fá-lo-á – aproveitar a sua tomada de iniciativa e assumir também os seus erros.
Ou pode não ser capaz de o fazer desta vez mas fazê-lo para a próxima. Não meça estes comportamentos ao milímetro.
Acarinhe a sua relação em vez de a transformar num desgastante braço-de-ferro.
O que é que interessa se não foi você que começou a discussão? Você tem o PODER
de começar a reaproximação.
APRESSE-SE. Sabia que uma relação
satisfatória implica que haja pelo menos cinco momentos positivos por cada
momento de tensão? Quanto mais depressa você assumir o controlo desta viagem e
escolher tornar possíveis momentos de cumplicidade, de diversão ou de simples
companheirismo, mais depressa voltará a sentir-se seguro na sua relação,
esperançado no futuro a dois e orgulhoso de si mesmo. O ressentimento não é
para si. Não amue. Não fique à espera.
Escolha ser feliz.