Sempre que reclamo a propósito do mau tempo, o meu marido lembra-me, de forma prática e assertiva que “estamos no inverno, é natural que chova”. É verdade que somos invariavelmente mais felizes quando somos brindados com dias de sol. O fenómeno também se prende com questões fisiológicas (mais sol equivale a maior produção de vitamina D, que, por sua vez, equivale a elevação do nosso humor). Mas seria pouco inteligente fazermos depender o nosso bem-estar das condições climatéricas. Em primeiro lugar, porque o estado do tempo é uma das muitas coisas que não controlamos. E depois porque, faça chuva ou faça sol, vamos sempre a tempo de refazer planos e divertir-nos.
Infelizmente, algumas pessoas falham
nestas duas competências: têm dificuldade em aceitar que há coisas que escapam
ao seu controlo e, quando veem as suas expetativas contrariadas, não conseguem
pensar num plano B. Ou num plano C. Ou seja, têm dificuldade em lidar com a
frustração. Então, dão por si deprimidas – sim, deprimidas! – porque planearam
durante meses uma viagem e, naquele dia, está um dia cinzento. Ou porque não
conseguiram aquela vaga profissional por que batalharam. Ou porque a pessoa que
amam não é, afinal, o príncipe idealizado. Mas muito pior do que isso, algumas
pessoas têm seríssimas dificuldades em permitir
que os seus filhos se frustrem. O bebé chora porque o irmão lhe retirou o
brinquedo das mãos? Compra-se outro brinquedo. A criança faz birra porque quer
ver mais uma hora de desenhos animados? Seja feita a sua vontade! O adolescente
amua porque tooooodos os seus colegas
têm um iPhone? Compra-se um iPhone, mesmo que isso implique o pagamento de mais
uma prestação num orçamento familiar engolido por créditos. Aquilo que é
proibido e que nunca, nunca pode acontecer é dizer NÃO. Frustrar a criança.
Porque parte o coração vê-la chorar. Porque é duro não a ver feliz.
Aquilo que estes pais e mães ignoram é
que, mais cedo ou mais tarde, os filhos terão de ser contrariados. Pelos
professores. Pelos amigos. Pelas entidades empregadoras. Ou pelo estado do
tempo. E, na medida em que sejam educados numa espécie de bolha que os priva de
ouvir alguns NÃOS, ser-lhes-á praticamente impossível desenvolver as
competências necessárias para lidar com a frustração. E o que é que isso quer
dizer? Que se sentirão enganados, traídos e desamparados quando descobrirem
que, afinal, o mundo é feito de contrariedades, de obstáculos, de NÃOS.
Sentir-se-ão bloqueados de cada vez que as suas expetativas esbarrarem numa
qualquer adversidade. Em vez de aceitarem a realidade e arregaçarem as mangas
em busca de outro caminho que lhes permita lutar pela felicidade, congelarão.
Sentir-se-ão perdidos, deprimidos, ansiosos.
Então, pela sua saúde, frustre-se.
Aceite as adversidades. Aceite que nem todos os seus desejos podem ser
concretizados. Permita que a vida dê a
volta aos seus planos. Não esmoreça. Ponha de pé o plano B. Vá até ao plano
Z, se for preciso. E seja o melhor exemplo de vida para os seus filhos.