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4.2.14

POR QUE É QUE A TERAPIA DE CASAL NÃO RESULTA?


Nem todos os casais que pedem ajuda profissional conseguem evitar o divórcio, o que significa que haja quem invista tempo e dinheiro num processo de terapia conjugal... Para nada. Mas se, teoricamente, e apesar da dimensão dos problemas, duas pessoas estão dispostas a tentar salvar a sua relação, o que é que pode correr mal?

Comecemos logo por aí: infelizmente, a presença na consulta de terapia de casal está longe de traduzir a genuína vontade de salvar a relação. Então por que lá vão? - Perguntará o leitor. E pergunta bem. Há muitos motivos possíveis por detrás desta escolha. Antes de mais, não é fácil assumir o fim de uma relação. Não é fácil para ninguém dizer a si mesmo "Acabou. O projeto onde apostei tudo o que tinha chegou ao fim. Fracassou". Um dos membros do casal até pode ter a certeza de que não há volta a dar. Pode saber, no seu íntimo, que não há terapia que salve uma relação onde já não haja amor. Mas isso não significa que a pessoa tenha coragem de terminar tudo. Afinal, na maior parte dos casos, há uma profunda estima pela pessoa com quem se está casado. E pontualmente até pode haver a sensação de que aquela ligação é única e que jamais será possível construir uma conexão assim com outra pessoa. E esse é um cenário assustador. Como é que alguém parte diretamente para um processo de divórcio sem dar uma derradeira oportunidade àquela relação? E se o que vier a seguir for pior do que o mal-estar que hoje se sente?

O medo intenso do desconhecido é tão bloqueador que pode levar a que a pessoa passe por flutuações ao longo de um só dia - ora tem a certeza de que a rutura é o caminho, ora se sente segura de que isso é um disparate que a pode levar a arrependimentos...

Como se isto não bastasse, há sentimentos de culpa associados a uma decisão que gera quase sempre juízos de valor da parte de familiares e amigos. E não é fácil lidar com a possibilidade de essa pressão surgir.

E os filhos? Ninguém parte de ânimo-leve para uma separação quando há filhos. E são poucas as pessoas que não bloqueiam perante a possibilidade de deixarem de ver os filhos a um ritmo diário. O sofrimento é atroz e, só por si, já explica por que há quem tente a terapia de casal mesmo que se sinta irremediavelmente desligado do cônjuge.

E ainda há a pena. A pena dos estragos causados. A pena do cônjuge. E este é um sentimento de corrói, bloqueia, deprime.


A terapia de casal não permite salvar todas as relações. Mas funciona muitas vezes como desbloqueadora de um impasse que tende a gerar tristeza e ansiedade a todos os membros da família. É uma via para que os pensamentos mais negativos e irracionais possam ser desconstruídos e, em função disso, o medo deixe de ser bloqueador. Arrumam-se as emoções e abre-se espaço para a tomada de decisões. Sem sentimentos de culpa e com a certeza de que cada um de nós deve fazer o que estiver ao seu alcance para ser feliz.
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