Posso ser despedido. E, se ficar sem emprego, como é que eu vou sustentar os meus filhos? Terei de voltar a viver com os meus pais? Que vergonha! Sou a vergonha da família! Serei o único que não foi capaz de singrar sozinho. E a relação da minha mulher com a minha mãe – será que vai resistir à convivência diária? Não consigo imaginá-las a viver na mesma casa. A minha mulher vai odiar-me, vai zangar-se com a minha mãe por tudo e por nada e vai acabar por pedir o divórcio. Tenho a certeza. E depois? Quando é que eu vou ver os meus filhos? Não estou preparado para ser um pai de fim-de-semana! Que agonia!
Há pessoas que se preocupam demais.
Estão constantemente a ruminar, constantemente aflitas, constantemente
centradas no futuro, que encaram com pessimismo. Sofrem (muito) por antecipação e, independentemente das
recomendações alheias, tendem a mostrar-se incapazes de focar a sua atenção
noutra coisa que não sejam os pensamentos negativos. E apesar de todo o
mal-estar sentido, consideram que é impossível agir de outra maneira, como se
não tivessem controlo sobre si mesmas. Mais: consideram que os seus medos são
reais e que a preocupação que é vista pelos outros como excessiva,
desproporcional, é ajustada, sim. Acham que é melhor enfrentar os medos abrindo
os olhos para o que PODE acontecer pois assim têm oportunidade de se preparar
melhor para os piores cenários. E ignoram o ciclo vicioso em que se encontram.
Não há nada de positivo na preocupação
excessiva. As pessoas que se martirizam com pensamentos catastróficos a
propósito do que pode acontecer ignoram que quando a preocupação é constante é relativamente fácil cair-se num
pessimismo generalizado que não tem nada de positivo. A pessoa começa por
alarmar-se com um possível problema e, quando dá por si, está presa a um vasto
conjunto de pensamentos destrutivos que já não abarcam apenas uma área da sua
vida mas sim TODA a sua vida. E assim caem com relativa facilidade em
perturbações depressivas e ansiosas que lhes roubam a energia que poderia ser
canalizada para a identificação de soluções e mobilização de recursos.
Quando o mal-estar é constante, vale a
pena parar e:
LIMITAR O TEMPO DEDICADO ÀS
PREOCUPAÇÕES. Sabia que as pessoas com mais de 60 anos têm níveis de
preocupação muito menores do que os jovens adultos? Um dos benefícios da
maturidade é a capacidade de aceitar que a vida é feita de altos e baixos. Tudo
passa e, se dermos o nosso melhor, os momentos mais difíceis acabam por
contribuir para que haja aprendizagens importantes. Então, o melhor é controlar
o tempo que passamos a pensar no que pode acontecer no futuro (imediato ou
longínquo). Se escolhermos dedicar uma parte específica do dia a esse tipo de
preocupações, estaremos quase de certeza a proteger-nos da possibilidade de os
pensamentos negativos escalarem para crenças irracionais capazes de nos roubar
a autoestima.
IDENTIFICAR OS PENSAMENTOS
CATASTRÓFICOS. Um dos exercícios que proponho frequentemente nas minhas
consultas implica a monitorização dos próprios pensamentos, isto é, a pessoa dá
o seu melhor no sentido de anotar todas as preocupações que a estão a
atormentar. Mas não fica por aí. Depois é desafiada a colocar a si mesma
algumas questões como “Qual é a probabilidade de isto acontecer?”, “Esta
preocupação é útil?”, “Estou a preocupar-me com algo que dependa do meu
controlo?” ou “O que é que eu posso fazer em relação a esta preocupação?”. E
também é desafiada a usar um conjunto de ferramentas que lhe permitam
“descatastrofizar” os seus medos. Porque não há nada de útil associado à
catastrofização. Porque esse pode ser um caminho sem fim, capaz de roubar o
discernimento, a energia e a esperança.
FAZER OUTRAS COISAS ALÉM DE RUMINAR.
Não há volta dar: quanto mais você rumina, mais desespera. E a páginas tantas,
não vê mais nada além das preocupações. Divertir-se, espairecer, focar a sua
atenção em conversas sobre assuntos diferentes são oportunidades para renovar
baterias. Mas não só. São estratégias que o impedirão de cair em crenças
irracionais destrutivas.