Você é uma daquelas pessoas que opta maioritariamente por estar só, ainda que essa escolha implique sofrimento? É daqueles que inventa desculpas para faltar aos jantares do liceu? Prefere que não o aborreçam com convites para jantar e fica uma pilha de nervos quando tem de participar num evento com pessoas que mal conhece? Se sim, é tempo de parar. Refletir. E eventualmente fazer escolhas diferentes.
Antes de mais, talvez valha a pena
olhar para os motivos que o têm levado a fugir a sete pés destes eventos
sociais. E eu creio que um desses motivos tem a ver com o medo da avaliação. O medo de ser julgado. O medo acerca do
que os outros possam dizer a seu respeito. Ora, eu tenho uma novidade para si:
o mais provável é que você esteja a ser demasiado crítico. Sim, você. A maior
parte das pessoas que se autointitulam de antissociais tendem a assumir – mais frequentemente
do que possam ser capazes de admitir – uma postura hipercrítica. Estão sempre
prontas para apontar defeitos – quer a si mesmas, quer aos outros.
Interiorize esta regra: todas as
pessoas têm qualidades e defeitos. T-O-D-A-S.
Aquilo que distingue umas das outras é, antes de mais, a autoconfiança. Na
medida em que você se aceitar tal como é e abdicar dos juízos de valor que
normalmente faz, tornar-se-á uma pessoa mais sociável. Faça uma lista das suas
qualidades e olhe para essa lista com frequência. Olhe para as pessoas à sua
volta e faça o mesmo exercício. Lembre-se: se TODAS as pessoas têm qualidades e
defeitos, isso significa que até aquelas pessoas com quem você acha que não tem
muita afinidade terão a sua lista de virtudes. Foque-se nisso.
Mas um olhar otimista sobre as pessoas que
estão à sua volta pode não ser suficiente. Afinal, você é daqueles que teme
sempre o pior, pelo que um convite para um evento de grupo é provavelmente
gerador de sofrimento antecipatório. Mesmo que faltem 20 dias para o jantar da
sua empresa você sente dificuldade em adormecer e sonha acordado com o que vai
dizer, com a loiça que, quase de certeza, vai derrubar e, claro, com o embaraço
que vai sentir.
STOP!
Pare de pensar em tudo o que pode
correr mal e fixe a sua atenção naquilo que gostaria que acontecesse. Centre-se
em que tudo aquilo que pode correr bem na medida em que for capaz de controlar
a sua ansiedade. E não perca tempo a analisar minuciosamente os encontros
anteriores!
Vou dar-lhe outra novidade: você não é assim tão importante! Você é
tímido e torce muitas vezes para que as pessoas não reparem em si. No entanto,
passa a vida a achar que todos os seus gestos serão minuciosamente analisados
por quem está à sua volta. Sejamos francos: acha que alguém se vai lembrar do facto
de você ter entornado o seu copo depois de todas as piadas que foram ditas num
jantar? Ou que as pessoas à sua volta estão minimamente raladas com o facto de
você se engasgar a meio de uma conversa? Elas ralar-se-ão, isso sim, se você
for agressivo ou desrespeitoso. E eu duvido que isso aconteça. Não se comporte como se fosse o presidente
dos Estados Unidos da América. A maior parte dos seus gestos não são sequer
notados pelas outras pessoas, quanto mais comentados. Você é o seu maior
crítico. As outras pessoas têm mais que fazer do que centrar-se nos seus
comportamentos.
Outra recomendação que pode revelar-se
útil diz respeito ao facto de todas as pessoas se sentirem inseguras a
determinada altura. Claro que aquilo que o deixa inseguro não é necessariamente
aquilo que deixa os seus colegas ou os seus vizinhos nervosos. Mas eles também
têm as suas vulnerabilidades. A diferença é que escolhem enfrentá-las. Correm riscos.
O dia em que você decida arriscar não
será obrigatoriamente o dia em que tudo correrá bem. Você pode arriscar
cumprimentar pela primeira vez uma colega de escritório (aquela que você acha
fisicamente muuuuito interessante) e…
ser surpreendido com a pergunta “Eu conheço-o de algum lado?”. Mas esse será o primeiro
dia em que você fez uma escolha diferente. O
primeiro dia de treino. E é preciso treino até que você deixe de olhar para
si mesmo como antissocial. É preciso treino para adquirir competências novas.
Saia da sua zona de conforto. Crie o
hábito de cumprimentar toda a gente todos os dias. Não fuja às conversas de
circunstância com a operadora de caixa do supermercado ou com o porteiro da
escola dos seus filhos. Aceite todos os convites. Não invente desculpas. Converse
mais. E mais. Permita que as suas competências se desenvolvam.
Quer ser visto como uma pessoa interessante?
Então, faça perguntas. Sim, isso mesmo. Mostre o seu interesse genuíno acerca
do que os outros têm para dizer. Você vai aprender mas vai, sobretudo, ligar-se
a essas pessoas. E, quando der por si, vai perceber que, afinal, é uma pessoa
tão interessante (e sociável) como as outras.
Ah! E sorria. Eu sei que se você estiver uma pilha de
nervos, o mais natural é que faça cara feia e passe o tempo a olhar para o
telemóvel numa tentativa de ver o tempo passar mais depressa. Mas você tem de
se colocar no papel das outras pessoas. Elas não têm a obrigação de conhecer a
sua timidez. Se aquilo que elas virem for alguém com cara-de-poucos-amigos, o
mais provável é que não façam qualquer esforço para se aproximar de si!