Já me "cansei" de dizer que há um motivo por que a paixão “só” dura, no máximo, dois anos. É que seria muito difícil manter todas as outras relações (profissionais, sociais ou afetivas) se ela durasse mais. Ninguém aguentaria viver permanentemente naquele estado de euforia, debaixo de toda aquela ativação fisiológica. Ou aguentaríamos?
Algumas pessoas vivem de forma
permanentemente intensa. É como se estivessem sempre no limite. Amam de forma
particularmente intensa. E zangam-se exatamente com a mesma intensidade. Lidam
muito mal com a rejeição, com os ciúmes, com tudo aquilo que fuja ao seu
controlo ou coloque em risco a sua relação.
Qualquer um de nós já passou por uma
explosão de raiva, um momento de maior impulsividade ou teimosia. E qualquer
pessoa pode perder momentaneamente o controlo e, em função do ciúme intenso e
do medo da perda, assumir uma atitude mais brusca. Aquilo que na generalidade
dos casos acontece é uma progressiva diminuição da ativação fisiológica e a
capacidade para assumir o erro – “Descontrolei-me. Não devia ter dito/ feito
aquilo”. Normalmente a pessoa cai em si, pede desculpas e tenta gerir as
emoções de forma mais equilibrada. E depois há estas pessoas, aquelas de quem
falo hoje, que mostram este descontrolo muito frequentemente, acabando por
causar danos sérios nas suas relações afetivas.
São pessoas que vivem o amor de forma
disfuncional. Porquê? Sobretudo porque, ainda que não pareça, estas pessoas têm
uma baixíssima autoestima. Olham para si mesmas de forma muito negativa e
encaram a pessoa amada como a solução para tudo. Como são extremamente
impulsivas, qualquer adversidade pode ser sinónimo de desespero capaz de
desencadear uma reação muito mais intensa do que seria normal. Ficam cegas de
raiva. Como estas explosões são desproporcionais, irracionais e embaraçosas, a
tal “pessoa amada” tende a desligar-se.
Não é fácil manter uma relação com quem
viva os afetos desta forma e os danos acabam quase sempre por sobrepor-se ao
que há de positivo. Mas tão-pouco é fácil acabar uma relação assim. A rutura
pode ser dificultada quer pelo desespero intenso (ameaças, chantagem,
zaragatas), quer pelas (também intensas) manifestações de amor.
Como o amor deve ser vivido de forma
muito mais positiva (e muito menos danosa), romper estes ciclos viciosos
implica treino, ajuda especializada. Implica aprender a viver a vida com menos
intensidade, controlar a ira e viver o amor com menos “sangue”.