Há quem diga que o Pedro morreu de amor. Por gostar tanto de quem não gostava dele. Por não aguentar a dor da rejeição. Deu tudo o que tinha a uma mulher que não soube retribuir na mesma medida. Quando ela disse que já não queria estar naquela relação ele ameaçou que se matava. Mas quem é que se mata por (falta de) amor? O discurso soou a chantagem emocional. Afinal, praticamente toda a relação fora marcada por mentiras e manipulação.
Mariana sentiu-se muitas vezes
manietada por um namorado que não dizia a verdade, que usava estratagemas para
conseguir que a sua vontade fosse satisfeita. Não se sentia amada. Há muuuuito
tempo que deixou de se sentir amada. Vivia
para o namorado. Para cuidar do namorado. Para agradar ao namorado. Para evitar
que o namorado se zangasse. Para evitar que o namorado se deprimisse. Mas
independentemente do que a Mariana fizesse, o Pedro andava triste, zangado, como
se o mundo inteiro estivesse sobre os seus ombros. Talvez se sentisse assim,
com todo o peso do mundo sobre si. Dizia muitas vezes que só o amor da namorada
o salvava. Ali, naquela relação, estava tudo o que precisava. Não vivia. Sobrevivia. E achava que
seria possível continuar assim.
Há alturas na vida em que uma namorada
é muito mais do que uma namorada. É mãe, é amiga, é amante, é confidente, é
cuidadora, é médica, é psicóloga, é enfermeira. Mas também há alturas em que uma namorada só quer ser a pessoa amada.
Sem a obrigação deste tudo-em-um. E isso não tem nada de egoísmo ou de
irresponsabilidade. Pelo contrário, a responsabilidade de cada um também se
mede pela capacidade de cuidar de si mesmo.
É verdade que o amor nos faz abdicar de
muitas coisas só para vermos a pessoa de quem gostamos mais feliz. É verdade
que, por amor, fazemos as maiores cedências. Mas nenhuma relação é merecedora
de que abdiquemos do amor-próprio. Nenhuma relação pode justificar a anulação
da própria felicidade.
O Pedro não morreu por amor. Foi uma
depressão não tratada que o consumiu.