Na tentativa (louvável) de serem
melhores pais e mães, algumas pessoas esforçam-se por não discutir à frente dos
filhos. Procuram, sobretudo, protege-los da agressividade e da tensão que
caracterizam qualquer briga mas muitas vezes também o fazem porque temem que as
tais discussões os possam traumatizar. A verdade é que nalguns casos são os
pais que carregam o trauma de terem crescido num ambiente marcado por discussões
violentas, acabando por adotar uma postura superprotetora em relação aos
filhos e ignorando que, assim, também podem estar a prejudicar as crianças.
Não há nada de bonito numa discussão
conjugal. Um momento de fúria ou exaltação não é exatamente uma
das memórias que um pai ou uma mãe espera deixar para a vida dos filhos. Mas a
vida dos filhos não será sempre bonita e “cor-de-rosa”. Também será marcada
pelos tais momentos de fúria e exaltação. E é fundamental que as crianças, cuja
personalidade está em estruturação, aprendam a lidar com este tipo de emoções. FUN-DA-MEN-TAL! É
essencial que elas aprendam a reconhecer e a gerir a sua própria raiva, em vez
de a ignorarem. É imprescindível que elas aprendam a negociar e a identificar
soluções de compromisso, apesar da raiva. É necessário que elas percebam que a
agressividade pontual também faz parte das relações saudáveis. É crucial que
elas aprendam a distinguir um comportamento agressivo de um padrão relacional
marcado pela violência. E é realmente importante que elas aprendam a fazer as
pazes depois de uma briga.
É óbvio que uma discussão conjugal pode
ser assustadora para uma criança. Mas o medo – seja em que circunstância for –
é quase sempre assustador. Algumas crianças têm medo do escuro. Outras têm medo
de cães. Ou de andar de bicicleta. Ou do desconhecido. O papel dos pais é
ajudá-las a enfrentar esses medos, tranquilizando-as, ajudando-as a olhar à sua
volta com a racionalidade que lhes devolva segurança. E isso também é válido
para o medo que surge – ou pode surgir – quando o pai e a mãe discutem. A
criança tem medo que os pais se separem? É legítimo. Mas a solução não deve
passar por mascarar a realidade, fingindo que está SEMPRE tudo bem. O
que é importante é mostrar que os momentos de tensão existem mas não têm de ser
dramáticos nem indicadores de que uma catástrofe está prestes a acontecer. Pelo
contrário, estes episódios são seguidos de reconciliações porque, quando duas
pessoas gostam MESMO uma da outra, tudo é ultrapassável, até a raiva
momentânea.
Mais do que qualquer lição de moral, é
o comportamento dos pais que molda a forma como os filhos vão conseguir lidar
com os seus medos e com as brigas que tiverem de travar. E não há nada mais
tranquilizador do que saber que, apesar dos conflitos, há sempre um momento em
que se faz as pazes.