Alguém dizia no outro dia: silêncio também é resposta. E é, claro. Até consigo identificar uma ou outra situação em que o silêncio pode ser A MELHOR RESPOSTA. Se alguém o insultar no meio da rua, escolher o silêncio não é sinal de vergonha ou embaraço. É sinal de indiferença e, nessa medida, sinal de inteligência emocional. Se uma pessoa alcoolizada se meter consigo, numa atitude mais ou menos provocatória, é a mesma coisa. Nestes casos, o seu silêncio diz, de forma clara e simples, "Eu escolho não comprar esta briga. Eu escolho não dar importância." Mas não é sempre assim. Ao contrário do que algumas pessoas defendem, o silêncio não é sempre uma resposta clara. O silêncio nem sempre diz tudo. E a indiferença que esta resposta traduz nem sempre é um sinal de inteligência.
Se alguém o insultar repetidamente,
expondo-o perante outras pessoas, prejudicando as suas relações pessoais ou
profissionais através de rumores, a melhor resposta não é o silêncio. É preciso
uma atitude mais firme, mais proativa.
E se alguém o magoar? Pode o silêncio
ser a melhor resposta? Há quem defenda que sim. Assisto todos os dias a essa
escolha entre os casais com que trabalho. Não vês como estou triste?
Não se nota - pelo meu silêncio - que erraste de forma grosseira,
desiludindo-me?
Não, não é nada disso que o silêncio
mostra. Pelo menos, não é isso que sobressai. Numa relação íntima o silêncio
também pode mostrar indiferença. Só que neste caso a indiferença é venenosa.
Porque ninguém espera ser tratado com indiferença pela pessoa amada. Ninguém
espera ser colocado "de castigo" quando erra. Ninguém espera
sentir-se desprezado (às vezes durante umas horas, outras durante alguns dias).
Para dizer a verdade, ninguém merece.
A pessoa que escolhe o silêncio pode
sempre alegar que não teve a intenção de desprezar. Que não quis colocar de
castigo. Que importa? O veneno está lá, capaz de corroer e criar distâncias
tantas vezes irrecuperáveis.
O mais curioso é que, para além de
nociva, esta escolha nem sequer é clara na maioria das vezes. Qualquer um pode
zangar-se de forma silenciosa a propósito dos erros do companheiro. Qualquer um
pode amuar. Mas aos olhos de quem assiste à birra, fica difícil identificar o
erro. Muitas vezes a pessoa até intui que errou. Percebe que o outro voltou a
fechar-se na sua concha e tem a certeza de que esse comportamento está ligado a
um comportamento seu – só não sabe qual. Pode tentar adivinhar. Fazer uma
espécie de rewind ao próprio comportamento no sentido de tentar perceber onde
errou. Ao fim de algumas birras o mais provável é que o exercício de
autoanálise se torne cansativo e que a pessoa acabe por desistir.
Escolher o silêncio como resposta é
fácil. Mas pode não ser inteligente. Difícil – mas provavelmente mais frutífero
– é deitar a mágoa cá para fora de forma assertiva.