Há dias uma senhora queixava-se a propósito do feitio do marido: “Ele não é uma pessoa extrovertida… Eu gosto muito mais de conviver com outras pessoas do que ele. Não é uma “people-person”. Sem querer, estava a rotular o marido de antissocial, como se a sua introversão pudesse, no fundo, significar que não gosta de estar com outras pessoas.
As pessoas mais introvertidas sabem que
dificilmente serão as mais populares da turma/ do emprego/ do ginásio. E,
nalguns casos, lamentam o facto de não serem capazes de assumir comportamentos
que lhes permitam “brilhar”. Mas, lá no fundo, sabem que isso está longe –
muito longe – de significar que não gostem de estar ao lado de outras pessoas.
Então, o que as distingue?
Gostam
de estar sozinhas? Gostam. Quando alguém assume que gosta
de estar sozinho arrisca-se a ser visto como antissocial. “O quê? Vais ao
cinema sozinho? Tens algum problema?”. Não há problema nenhum. As pessoas mais
introvertidas valorizam o tempo que passam sozinhas. Em muitos casos, precisam
desse tempo para se revigorarem. Quando têm uma hora livre, preferem passá-la a
ler ou a jogar computador sozinhas em vez de irem até ao café para estar com
outras pessoas. Mas isso não significa que
queiram estar sozinhas sempre. Ou que não valorizem as suas relações
afetivas e os momentos em família ou entre amigos. Valorizam.
Por não se sentir à vontade com a ideia
de ser o centro das atenções, a pessoa
introvertida é a última a levantar a mão e voluntariar-se para o que quer que
seja. Não significa que não seja uma pessoa solícita e disponível. Muito
menos significa que se trate de alguém egoísta e autocentrado. O que acontece é
que, no meio do grupo, a pessoa acaba por sentir-se envergonhada e tem muita
dificuldade em tomar a iniciativa e, assim, ser o protagonista da situação.
Muitas vezes sente-se prejudicado porque gostaria de viver uma experiência nova
mas, por timidez, não é capaz. Noutras arrepende-se porque teria oportunidade
de mostrar o seu valor e retrai-se (se você for uma pessoa introvertida
lembrar-se-á da angústia de saber a resposta colocada pelo professor e não ser
capaz de levantar a mão).
Claro que esta falta de iniciativa
também faz com que uma pessoa introvertida dificilmente emita a sua opinião.
Pode tratar-se de uma discussão familiar ou de um debate académico. A pessoa só diz o que pensa ou sente se for
questionada. Por mais acesa e interessante que esteja a discussão, é muito
frequente que a pessoa introvertida se mantenha calada, como se o assunto lhe
passasse ao lado. Em muitas destas situações arrisca-se a passar por alguém que tem a mania da superioridade ou
que pura e simplesmente não quer saber do assunto. Mas no fundo é o medo que a
impede de dizer o que quer que seja. O medo da avaliação. O medo de magoar os
outros. O medo de ser mal interpretado. Por medo, a pessoa arrisca-se a que
quem estiver à sua volta não só não a conheça como faça juízos de valor sobre o
seu comportamento.
É mais ou menos isso que acontece quando
a pessoa introvertida escolhe circular
de auscultadores nos ouvidos - no ginásio, na faculdade ou nos corredores
do emprego. A pessoa gosta de estar consigo mesma e alia uma atividade que lhe
dá prazer a uma escolha útil – assim não “tem de” socializar. Não “tem de”
fazer conversa de circunstância. Claro que aquilo que a perturba é, sobretudo,
o facto de não saber fazer conversa
de circunstância. O que é muito diferente de não querer fazê-lo (nunca). O
problema é que o hábito de circular (quase) sempre de auscultadores nos ouvidos
pode passar a mensagem errada. Arrogância. Superioridade.
A pessoa teme a avaliação ao ponto de
ser particularmente sensível à expressão facial dos outros. Se um colega
estiver de “cara feia”, o mais provável é que a pessoa introvertida evite
estabelecer contacto visual, como se
aquela expressão pudesse ter alguma coisa a ver consigo. Claro que o medo é
irracional mas é igualmente intenso e é por isso que a pessoa tende a fugir. O
resultado é sempre o mesmo – mostra-se esquiva, pouco presente e transmite a
ideia de que não gosta de estar perto de outras pessoas. Na verdade é
precisamente o oposto. A pessoa pode querer estar com outras pessoas mas teme a
avaliação. E o medo é significativamente maior quando as outras pessoas estão
aparentemente zangadas ou tensas.
O verdadeiro introvertido faz poucos
telefonemas e envia poucos e-mails. Se tiver uns minutos livres antes de voltar
para o emprego não faz um telefonema para passar o tempo. É provável que tema
incomodar alguém, pelo que, se pegar no telefone, será para se entreter
sozinho. Ainda em relação ao telefone, o mais provável é que o use pouco e que,
se tiver algum assunto a resolver – profissional ou não – dê preferência ao
e-mail.
De um modo geral, é difícil saber como
se sente, em determinado momento, uma pessoa introvertida – se está nervosa,
preocupada, entusiasmada ou feliz. A menos que haja uma relação suficientemente próxima, suficientemente
íntima. Nalguns casos, esta reserva é uma desvantagem – os outros podem
sempre construir uma imagem errada a respeito daquela pessoa. Mas em muitas
outras também pode revelar-se uma vantagem – na medida em que a pessoa se
protege da exposição desnecessária ou até de cometer uma gaffe. O mais
importante é que a própria pessoa reconheça se há ou não necessidade de, em
certos contextos, sair da sua zona de conforto e arriscar um padrão de
comportamento diferente. Em suma, decida se a sua introversão está ou não a ser
um problema.