Por mais otimista que alguém seja, é
importante reconhecer que não se pode
confiar em toda a gente. Há muitas pessoas genuinamente boas mas à volta de
cada um de nós também existem umas quantas pessoas mal-intencionadas, capazes
de fazer escolhas erradas apenas na medida em que estas sirvam os seus
interesses. Pelo meu consultório passam todos os dias pessoas marcadas por
episódios de traição/ desilusão e que se mostram hoje incapazes de confiar. É
como se o facto de se terem cruzado com alguém que, de um momento para o outro,
as desiludiu tivesse roubado a esperança no resto da humanidade.
É verdade que a desilusão pode deixar marcas. Mas quão saudável será esta postura
pessimista em relação ao mundo? Será que vale a pena assumir que qualquer
pessoa é um potencial "traidor"?
É precisamente por considerar que viver
com medo da desilusão não é viver em pleno que hoje aqui partilho algumas
sugestões para que possamos - todos - olhar para as nossas relações familiares
e sociais de uma forma mais otimista e segura.
AVALIE A FORMA COMO A PESSOA OLHA PARA
AS REGRAS/ PARA O QUE É CORRETO. Se você quiser saber se uma determinada pessoa
é capaz de o prejudicar só para satisfazer as suas próprias necessidades, confronte-a
com situações específicas que envolvam outras pessoas. Procure saber se, de um
modo geral, a pessoa é capaz de distinguir o que é correto das deslealdades.
Não basta concordar consigo. É preciso mostrar que é capaz de fazer as escolhas
corretas. Se uma pessoa mostrar que é capaz de fazer uma escolha que prejudique
outros, é provável que, mais cedo ou mais tarde, também o faça consigo.
TEM MEDO DE EMPRESTAR DINHEIRO? Não
sabe se o deve fazer ou não? Avalie como vive a pessoa que hoje lhe pede ajuda.
Quão desesperada está? Quão materialista
é? É relativamente fácil mostrar aflição quando se precisa de ajuda. Mas
não se precipite. Talvez seja mais prudente avaliar primeiro o modo de vida da
pessoa em causa. Se se tratar de alguém que dê prioridade aos bens materiais, é
possível que essa pessoa não possua um sentido de responsabilidade que a leve a
encarar um empréstimo como uma dívida. Nesse caso, o seu desafogo financeiro
pode ser mal interpretado e o empréstimo pode ser visto como uma obrigação sua.
Cuidado.
NAS SUAS COSTAS... Oiça com atenção
aquilo que é dito sobre outras pessoas. É natural que uma pessoa com quem você
tem alguma intimidade desabafe consigo a propósito dos erros de outras pessoas.
Mas se a pessoa for capaz de mostrar uma
simpatia irrepreensível pela frente e uma postura hipercrítica pelas costas,
isto é, duas caras, é mais-do-que-provável que também o faça consigo.
SEMPRE QUE POSSÍVEL, PEÇA UMA SEGUNDA
OPINIÃO. Não sabe se deve confiar na "opinião técnica" de um
profissional? Tem receio de que, quando o seu médico lhe diz que é melhor fazer
o exame XPTO ele possa estar a defender
os interesses financeiros de um colega? Na dúvida, peça uma segunda opinião
e evite sentir-se um fantoche.
CUIDADO COM AS DESCULPAS ESFARRAPADAS.
Toda a gente erra e é bom que você saiba disso. Você também erra. A questão é o
que cada um faz quando erra. Se você estiver à espera da resposta a um email
importante e confrontar a pessoa em causa - via telefone - com o respetivo
atraso, estará a dar-lhe uma oportunidade de assumir o erro. Mas se em vez de
"desculpa, esqueci-me. Vou já tratar disso" você ouvir "tive um
problema no email", tome cuidado. É possível que a pessoa em causa tenha
algumas dificuldades com a assunção de
responsabilidades. Não, este comportamento não faz de ninguém um potencial
"traidor" mas você merece mais consideração.