Por
que é que as pessoas traem? A resposta parece óbvia, pelo menos
para alguns - "porque aparece alguém mais interessante", "porque
o sexo na relação original deixou de ter paixão" ou pura e simplesmente
"porque é cada vez mais difícil manter a chama acesa no meio de todas as
rotinas". Seja como for, estas respostas estão longe de constituir
explicações realistas para o fenómeno da infidelidade. São visões superficiais
e catastrofistas que nos dizem qualquer coisa como "é preciso ter cuidado
porque há por aí umas quantas pessoas malucas (ou interessantes) capazes de dar
à volta à cabeça do seu mais-que-tudo e pôr fim ao seu casamento". Como se
pouco houvesse a fazer para evitar uma relação extraconjugal, a não ser manter
a vigilância.
Mas a realidade é bem diferente. Para
mim, que trabalho com casais assolados pelo drama da infidelidade há tantos
anos, está muito claro que as pessoas
não traem porque se perdeu a chama ou porque se confrontaram com alguém mais
interessante do que o parceiro de longa data. De um modo geral, as pessoas
traem porque não construíram uma ligação suficientemente forte. Não me
interprete mal. Estou longe, muito longe, de poder dizer que "quem ama não
trai". Há, efetivamente, muitos casos de quem continua a amar mas cai na
esparrela de uma relação extraconjugal.
Confuso? Vou tentar explicar melhor. O
que acontece é que o amor que duas pessoas sentem nem sempre é suficiente para
que sejam capazes de construir uma ligação suficientemente forte, segura, capaz
de as proteger destas ameaças. E o que é que caracteriza uma ligação segura?
Resumidamente, é a capacidade de "estar lá" para o outro. Estar lá sempre, estar lá quando é preciso,
estar lá para as necessidades afetivas, ser capaz de dar resposta aos apelos da
pessoa amada, ser capaz de reconhecer as suas chamadas de atenção e colocar
essas necessidades no topo das prioridades.
Quando uma pessoa conta com este tipo
de apoio, quando sabe que há alguém que vai estar "lá", que vai
colocá-la sempre em primeiro lugar, que vai prestar atenção, dar colo, dar afeto, mostrar-lhe que é importante, que
é especial, sente-se ligada. Não é amarrada. Não é aprisionada. É ligada. E
não vai querer trair. Sim, é uma questão de querer ou não. As pessoas que são
felizes no casamento ao ponto de não quererem trair não são santas. Tão pouco
são cegas. Reconhecem que há pessoas fisicamente atraentes, intelectualmente
estimulantes, autênticos "pedaços de mau caminho". Mas escolhem não
ir por aí. Porque se sentem genuinamente ligadas. Porque aquilo que têm é
especial e fá-las sentirem-se especiais. É verdade. Até o sexo é diferente - é
especial - quando se constrói uma ligação assim. Não é SEMPRE tudo bom. Não é
sempre um mar de rosas. Mas é maioritariamente muito bom. A pessoa sente-se
livre, sente-se acolhida, sente que, ao lado da outra, pode ser quem é, pode
explorar os seus sonhos e as suas fantasias, e não quer abdicar disso por nada
deste mundo. Nem sequer por um pedaço de mau caminho.