Lutar por um amor vale sempre a pena. A relação pode ter
esmorecido. Aquelas duas pessoas podem ter perdido o norte algures nos caminhos
da vida. Porque não souberam gerir todos os papéis quando chegaram os filhos.
Porque se distraíram um do outro e, quando deram conta, já estavam perdidos. Ou
porque permitiram que os problemas os engolissem, roubando espaço para o
romantismo. Não importa os porquês. Se (ainda) houver vontade, é sempre
possível dar a volta. Mas é preciso que
haja vontade. É preciso que os dois queiram. É preciso que ambos estejam
dispostos a reinvestir.
Para dizer a verdade, na maior parte
das vezes é isso que acontece. Os pedidos de ajuda até podem partir de quem se
sente ferido, triste e desamparado. Mas há vontade de lutar. Pode haver
desesperança. E medo. Sim, há medo
de as coisas não darem certo. Se ainda houver amor, com trabalho, é possível reatar
a ligação, reconstruir os laços.
Então e quando, pelo menos para uma das
partes, já não há essa vontade, já não há o amor que dê forças para lutar? O
que é que acontece quando alguém escolhe lutar por uma relação em que já não
acredita? O que é que acontece quando alguém diz em voz alta "vamos
tentar" e ouve o próprio coração dizer "já não consigo"? É possível reconstruir uma relação quando
já não há amor?
As respostas parecem óbvias.
Teoricamente, só se pode lutar por aquilo em que se acredita. Só se pode
reconstruir uma união se ainda houver amor. Na prática as coisas são tão
diferentes! A verdade é que as feridas emocionais colecionadas ao longo do
tempo podem alterar a perceção dos próprios sentimentos. Sim, há quem entre num gabinete de terapia de casal sem ter a certeza
de que ainda ama. É precisamente por isso que precisa de ajuda. E em muitos
casos quando as feridas são tratadas e há mudanças concretas que abrem espaço
para o diálogo, para o afeto, para o amparo e para a conexão, tudo fica mais claro.
Afinal, o amor estava lá. Estava
coberto pelas feridas, como o sol fica coberto pelas nuvens.