Toda a gente sabe que os pais e mães
também se entristecem. Às vezes choram. E até há os que façam birras. Mas a
experiência clínica tem-me mostrado que a maior parte dos pais e mães dá o seu
melhor no sentido de protegerem os seus filhos das emoções mais negativas. Não
é que queiram armar-se em super-heróis. Querem, isso sim, proteger as suas
crianças do lado mais duro da vida. Querem
poupá-las à crueza da realidade. Querem manter viva a fantasia e preservar o
direito à felicidade daqueles seres pequeninos que tanto amam. E, por isso,
mentem. Estando tristes, respondem que
não, não estão: “Está tudo bem”. Limpam as lágrimas, esboçam um sorriso, torcem
para que a criança não se aperceba daquilo que realmente sentem e afundam-se em
sentimentos de culpa. “E agora? Será que o meu filho se apercebeu da minha
tristeza? Que raio de pai ou mãe sou eu que não soube protege-lo? Estou a
fazer-lhe mal de certeza…”.
O problema dos sentimentos de
culpa é que estão quase sempre associados a pensamentos negativos e
irracionais, que bloqueiam uma visão realista da situação. Sem que a pessoa dê
conta, começa a afundar-se numa tristeza profunda sem saber muito bem o que
fazer para dar a volta.
Quem é que disse que somos melhores pais se ocultarmos a nossa
tristeza? Onde é que está escrito que é mais saudável mentir às crianças? A
verdade é que, como qualquer pai ou mãe saberá, as crianças são particularmente
intuitivas. E atentas. Então, na medida em que estejam a ser educadas num ambiente
emocionalmente seguro, é natural que perguntem se estamos tristes quando se
apercebem dessa emoção no nosso rosto. Aquilo que para alguns pais é encarado
como um problema é, na verdade, um sinal de que estão a fazer um bom trabalho.
Continuarem a ser bons pais não passa por escamotear a realidade nem por uma
postura superprotetora. Passa, isso sim, por assumirem com honestidade as suas
emoções, continuando a contribuir para que também as crianças se sintam livres
para manifestar as suas emoções. Claro
que nenhum pai ou mãe tem o direito de colocar sobre os ombros dos seus filhos
o peso dos seus próprios problemas. Nenhum pai ou mãe tem legitimidade para
partilhar com as suas crianças assuntos que elas não possam digerir. Mas isso
não tem nada a ver com a manifestação de emoções.
Nenhuma criança gosta de ver os
pais tristes. Mas a aflição de um filho ao deparar-se com a tristeza do pai ou
da mãe é significativamente maior quando o adulto mente. Porque quando as palavras dizem uma coisa e a
intuição da criança diz outra, a confusão é maior e dá lugar à intranquilidade.
Se o seu filho lhe perguntar se
está triste, não há nenhum problema em assumir que sim, está. NENHUM. O mais
importante é que a assunção da sua tristeza surja acompanhada de duas mensagens
muito importantes:
1. A garantia de que a sua tristeza não tem nada a ver com a criança, isto é, a
explicação de que a criança não tem culpa por você estar triste. Você não está
assim porque o seu filho não arrumou os brinquedos ou porque esperneou para
comer a sopa. Seja claro.
2. A
garantia de que a tristeza vai passar. Não há nenhum drama associado ao
reconhecimento da sua tristeza. Os seus filhos não vão ficar traumatizados, nem
sequer perturbados, na medida em que lhes garanta – de forma clara – que vai
ficar tudo bem.